Alien: Isolation

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Antes de pegar este Alien: Isolation, eu li bastante sobre ele e deduzi uma coisa: ou eu o acharia sensacional, ou eu o acharia chato pra burro. Achei que não teria meio termo, mas para minha surpresa, a realidade acabou ficando exatamente por aí. Alien: Isolation tem momentos deveras tremendões, mas há outros em que a frustração, a perda de progresso e a repetição detraem do medo que ele consegue criar tão bem.

ENTRE RIDLEY SCOTT E JAMES CAMERON

A história de Alien: Isolation acontece entre Alien e Aliens. Você controla Amanda Ripley, filha de Ellen, interpretada nos filmes pela Sigourney Weaver. Ela é contatada por um androide da Weyland-Yutani que diz que a caixa preta da nave de sua mãe foi recuperada, e oferece a ela a oportunidade de viajar com ele até a estação espacial Sevastopol, onde a gravação está. Ela aceita. Big mistake, delfonauta!

Ao chegar lá, descobre uma estação vazia e praticamente desativada. Tem um monstro a bordo, que está deixando todo mundo tenso e fazendo com que os sobreviventes atirem em qualquer coisa que se mova. Obviamente, você já sabe que monstro é esse. Está no título do jogo, afinal de contas.

A primeira coisa a chamar a atenção é o visual, que recria meticulosamente a aparência do filme. Manja aquele visual que o futuro tinha nos anos 70, com computadores monocromáticos e pixelados, por exemplo? É tudo por aí. O design é realmente impressionante, bem como toda a atmosfera visual e sonora, que deixa a estação Sevastopol bastante opressora e assustadora.

Os efeitos de iluminação, em especial, merecem destaque. Coisas como a luz do lança-chamas e da ambientação mostram o grau de capricho que a turminha da Creative Assembly teve com o visual do jogo. Eu analisei a versão de PS3, então apesar de artisticamente impressionante, tecnicamente não é tanto. O game roda em 720p e com som 5.1, ambos provavelmente bem abaixo do que deve rodar nos consoles da nova geração. Tecnicamente, o que temos aqui não está no nível gráfico de um Crysis 3, por exemplo, para comparar com outro jogo de PS3, mas ainda assim não dá para colocar muitos defeitos no design geral. Os personagens até suam!

ESCONDE-ESCONDE NO ESPAÇO

Não confunda: Isolation não é um FPS. A visão é, sim, em primeira pessoa, e você até tem algumas armas, mas temos aqui um survival horror bem truezão, no qual a stealth é bem mais valorizada do que a pintudice.

A começar pelo Alien em si, que é imortal. Em determinados momentos da história, ele fica caçando você e os outros seres humanos. Ao contrário da maior parte dos jogos de stealth, no entanto, ele não tem caminhos pré-estabelecidos. O monstrengo pode aparecer a qualquer momento, de qualquer lugar, e ir para qualquer local da estação. Ele inclusive pode te encontrar se você estiver escondido, mesmo que não faça nada para chamar a atenção.

E aí está justamente o principal problema do game. Se o Alien te encontrar, é morte. E como ele pode aparecer de qualquer lugar a qualquer momento, tem algumas vezes que ele simplesmente cai do teto na sua frente, causando um game over instantâneo sem o jogador ter feito nada errado.

Some essas mortes injustas a um sistema de saves datado e extremamente punitivo, e logo o clima de terror dá lugar a frustração e repetição. Acontece que Isolation não usa autosaves. Você deve salvar manualmente em pontos específicos do cenário. E você nunca sabe aonde vai estar o próximo, o que acaba fazendo você voltar para o anterior depois de explorar um pouco o cenário. E aí entra outra decisão de design questionável, pois o savepoint fica inativo por alguns minutos depois que você o usa, obrigando o jogador a esperar para poder salvar novamente.

Além disso, os saves não costumam ficar no meio do caminho, mas dentro de salas, o que acaba te obrigando a explorar. Porém, quanto mais você explora, maior é a possibilidade do Alien pegar você. E se você não explorar e o Alien te pegar, pode acabar voltando muito até seu último save.

Isso é assim para aumentar a tensão. Cada save deveria ser um alívio, mas no final das contas, acaba dando o efeito contrário. É tão fácil morrer que você vai repetir muito alguns trechos. A parte do ninho, por exemplo, é relativamente curta, mas eu demorei mais de uma hora para passar por ela, de tanto que eu morria.

O Alien não é a única ameaça na estação, mas pelo menos contra as outras você tem defesas. Os androides também dão bastante trabalho. Você pode usar armas contra eles, mas a munição é limitada e, na tradição Resident Evil, eles precisam de uma pá de tiros para caírem.

Os humanos em geral também atacam imediatamente, mas são bem menos perigosos. Na maioria dos casos, dá tempo de correr até eles e dar umas porradas até nocauteá-los, sem perder munição e à custa de muito pouca energia.

Você deve pensar muito antes de sair na porrada com androides e humanos, no entanto. Isso porque qualquer barulhinho que você faça (mesmo simplesmente correr) vai atrair o Alien.

O ESPAÇO É GRANDE. GRANDE MESMO

Alien: Isolation é um jogo longo. Longo mesmo. Você pode achar que a caminhada da sua casa até a farmácia é longa, mas isso não é nada perto da duração de Isolation. Ele não marca quanto tempo a jogatina durou, mas em tempo real eu o joguei por mais de duas semanas até os créditos rolarem. Ao longo desse tempo, fiz pelo menos duas páginas de anotações para esta resenha, e uma coisa curiosa é que os comentários começam negativos, mas vão ficando cada vez mais positivos conforme o tempo passava.

Isso porque os melhores momentos de Alien: Isolation são, curiosamente, os momentos em que o Alien não aparece. São nesses momentos que você pode explorar a Sevastopol com calma e curtir a atmosfera e o design do ambiente. No próprio filme original, os melhores momentos não são aqueles com o monstro, mas sim os que mostram o efeito que o monstro teve nas pessoas e no ambiente. É exatamente assim neste jogo também.

Para ser justo, o Alien não aparece tanto assim. Ele demora bastante para dar as caras. Daí, ao longo da campanha, tem duas caçadas extensas, que abrangem várias horas cada uma, na qual ele fica na sua cola. Entre elas e depois delas tem bastante jogo, o que acaba sendo um problema de timing. O jogo seria mais assustador e menos frustrante se o Alien aparecesse várias vezes por períodos curtos, ao invés de em duas partes tão longas. É um problema semelhante ao que acontece em Outlast, um jogo parecido recentemente resenhado por aqui, em que a falta de pausas para respirar deixa o jogo intenso demais, diminuindo assim o medo que deseja causar.

Confira parte da segunda caçada no vídeo abaixo.

Isso porque é quando o Alien está te caçando que você passa a maior parte do tempo esperando as longas telas de loading carregarem, já que você morre muito, e muito rápido. Este é um jogo difícil. Tenso e intenso, como tem que ser. Mas a dificuldade alta e os longos loadings o tornam frustrante, permitindo que o jogador realmente usufrua da experiência nos seus períodos Alien-free.

Por exemplo, lá na metade do jogo, tem um trecho em flashback, em que você visita um cenário muito importante para a mitologia da série. É bem a isso que eu me referi naquele meu texto sobre games como turismo virtual. É a possibilidade de você explorar um cenário intrigante pelo qual o filme passa de forma relativamente rápida. E é sensacional.

Também merecem destaque dois momentos em que você faz spacewalk, podendo ver toda a grandiosidade da estação Sevastopol do lado de fora, com planetas enormes ao fundo. É lindo e emocionante e, graças ao design caprichado do visual e do som, não deixa de ser tenso.

ANIMAIS TÊM MEDO DE FOGO

A sua única defesa contra o Alien é o lança-chamas. Fogo não o mata, mas o faz fugir por alguns segundos, dando tempo de explorar o cenário. Você já vai ter sido caçado uma vez antes de ganhar a arma, e vai encontrá-la exatamente quando a segunda, mais longa e mais tensa caçada vai começar. Porém, nesta caçada, ele não é tão útil, pois a munição é muito escassa e é consumida bem rápido.

Agora lembra que eu falei que meus comentários foram ficando mais positivos conforme o jogo avançava? Pois então. Depois dessa segunda caçada estendida, fica um tempo sem Alien nenhum, e quando ele volta a aparecer, nas últimas missões, você já está bem armado e com munição suficiente para espantá-lo com o fogo, bastando um pouco de habilidade e timing.

Aí o jogo melhorou bastante. Ele continuou tenso e continuou dando medo, mas foi nessa parte que eu realmente consegui passar a maior parte do tempo jogando, e não esperando loadings, já que o Alien cair na minha frente não era mais sinal de morte certa.

Até a trilha sonora muda nessas últimas fases. As músicas ainda são de terror, mas são mais rápidas, menos atmosféricas e mais urgentes, incitando o jogador a não ficar parado esperando um save permitir ser usado de novo, mas a agir.

Alem disso, por duas vezes na missão 15 e várias vezes na 18, sabe-se lá porquê, o jogo autosalva, criando checkpoints automáticos. Não por acaso, a 18ª e última fase é um dos melhores momentos do jogo. Eu morri várias vezes nela, mas como ela tinha checkpoints, não era mais tão frustrante. Eu podia me concentrar em jogar, e não em procurar savepoints.

Fosse assim desde o início, Alien: Isolation poderia ser excelente, delfonauta. Dá até a impressão que a desenvolvedora percebeu a besteira que fez com os saves manuais e consertou isso no final do jogo, mas já era tarde demais para mexer no resto.

FACEHUGGING

Depois de passar duas semanas “vivendo” Alien: Isolation, eu acabei com uma opinião dividida. Trata-se de um jogo que faz muitas coisas certo, mas também faz muitas errado. É frustrante demais para ser considerado divertido, mas é caprichado demais e feito com muito carinho para não ser admirado. No final das contas, Alien: Isolation é um passo na direção certa. Um próximo jogo da série tem muito potencial, bastando pegar tudo que esse fez de bom, e não se prender a técnicas de gamedesign de 15 anos atrás. Se você é fã dos filmes, no entanto, uma coisa é certa, este é o mais próximo que você pode chegar de jogá-los. Além disso, acredito que vai ser um jogo do qual eu não vou me esquecer tão cedo, pois minha experiência com ele foi, de fato, intensa.

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