Avatar

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Lá se vão 12 anos desde que o Titanic afundou (nas telas de cinema, que fique bem claro), transformando Leonardo DiCaprio no galã das menininhas de 13 anos (assim como o carinha que faz o vampiro emo de Crepúsculo o é hoje) e difundindo mundialmente aquela praga da Celine Dion e sua My Heart Will Go On. Desde então, James Cameron sumiu de cena, pois os efeitos especiais ainda não haviam avançado o suficiente para ele usá-los com seu perfeccionismo costumeiro na próxima história que queria contar.

Então, depois de todo esse tempo dedicado aos avanços da tecnologia cinematográfica para levar sua visão às telas, os trailers de Avatar que saíram era o que de melhor o filme tinha? Após mais de dez anos sem dar as caras, gerando uma enorme expectativa e aquilo era a grande revolução cinematográfica tão alardeada? Essa perspectiva me desanimou, pois essas peças promocionais foram, se tanto, mornas, e isso para ser bem generoso. Felizmente, de fato não eram o que de melhor havia no filme e em breve voltaremos a esse assunto. Antes, porém, precisamos tirar a sinopse do caminho.

Avatar conta a história do planeta Pandora, um mundo belíssimo e selvagem em vias de colonização pelos humanos que querem extrair dele uma pedra valiosíssima sabe-se lá por quê. O problema é que o maior bolsão dessas pedras fica justamente embaixo da casa dos Na’vi, a população nativa composta por seres de três metros de altura, com pele azul e feições felinas que não são fãs do conceito de realocação.

A solução então é colocar a mente do fuzileiro paralítico Jake Sully (Sam Worthington, de O Exterminador do Futuro – A Salvação), dentro de um avatar Na’vi para que ele tente estudar a principal tribo local e consiga uma solução diplomática para o impasse antes que os militares entrem em ação para fazer o que sempre fazem. Só que conforme vai se aprofundando nos costumes locais, ensinados por sua guia Neytiri (Zoe Saldana, a Uhura de Star Trek), mais ele se apaixona por esse novo modo de vida, e aí…

Bom, você já sabe, pois certamente já viu essa história, com todos os exatos elementos dramatúrgicos acima, em vários outros filmes dos mais variados estilos. Nesse ponto, o filme realmente não tem nada de inovador e me lembrou muito uma espécie de Dança com Lobos espacial, misturado com uma mensagem ecologicamente correta de “a natureza é sua amiga” e anticolonialista (humanos = colonizadores europeus, Na’vi = índios).

O roteiro também apresenta alguns problemas de construção de personagens. Especialmente o chefe da colônia, interpretado por Giovanni Ribisi e o coronel do exército Miles Quaritch (Stephen Lang), o grande vilão da trama. Ambos são unidimensionais ao extremo, sem nenhum desenvolvimento. O primeiro é um babaca ganancioso e o segundo é o típico militar que resolve tudo pela força apenas porque o roteiro assim o pede. São estereótipos ambulantes e esse último chega ao cúmulo de dizer todas as frases clichês de personagens desse naipe.

Contudo, mesmo com essa história mundana e esses problemas de roteiro, o filme é digno merecedor do Selo Delfiano Supremo, tremendão até a medula, superando até mesmo as mais altas expectativas que se poderia ter. E respondendo à pergunta que não quer calar: ele é de fato revolucionário? Sim, é! E como!

A tecnologia 3-D existe no cinema desde a década de 50. Então chega a me espantar que tenha levado meio século para vir um sujeito e usá-la e aperfeiçoá-la para bem mais do que apenas atirar e cuspir coisas na direção do espectador. A palavra aqui é imersão. Total, completa e maravilhosa.

Nunca em meus 27 anos como cinéfilo havia me sentido tão dentro de um filme, quase que fisicamente. E não seria esse o grande objetivo do cinema? Pois Cameron conseguiu a façanha de transportar-me totalmente para esse outro mundo exótico, cheio de plantas e animais fluorescentes. E muitas vezes usa tomadas em primeira pessoa para reforçar essa presença do espectador ao lado dos personagens, como parte integrante da trama.

A sensação de profundidade espacial e detalhismo que ele conseguiu atingir é de cair o queixo. O negócio é tão perfeito e é uma paulada tão grande no cérebro que cheguei a ficar até um pouco nauseado no começo do filme. Depois acabei me acostumando e passei a me embasbacar com o tal detalhismo. Você pode assistir a esse filme 50 vezes e ainda assim não terá visto tudo que está nele. Para cada lado que se olhe, há alguma coisa nova. Um painel de computador cheio de informações, um detalhe arquitetônico, uma máquina do exército, enfim.

Aliado a esse design de produção e à direção de arte, a paleta de cores vivas termina de encher os olhos. Tanto que o Corrales depois me disse que adorou também a trilha sonora, mas confesso que nem prestei atenção nela de tão absorto que estava pelas imagens. Então fica a dica para quem for assistir tentar prestar atenção no som também.

E esse é o segredo de como James Cameron reverte totalmente o que o filme tem de ruim (o roteiro) em um espetáculo completo. Pois a partir do momento em que ele te faz esquecer que você está vendo um trabalho de ficção em um mundo que não existe (e para todos os efeitos, em seus 162 velozes minutos, ele existe sim, graças à qualidade das técnicas de computação gráfica e captura de performance utilizadas), é impossível não se importar com os personagens, não se envolver no romance entre Jake e Neytiri ou nas gigantescas explosões das batalhas entre os Na’vi e o exército, em cenas testosterônicas que vão fazer você estragar sua cueca, levantar, erguer as mãos aos céus, gritar um hell yeah, muthafuckin’ bitch bem alto e finalmente ser expulso da sala pelo lanterninha.

Contudo, entretanto, todavia, meu amiguinho delfonauta, essa percepção deslumbrada que estou tentando passar a você foi embasada ao ver o filme como ele foi feito para ser assistido, em Imax 3-D. E infelizmente, aqui no Brasil só há duas salas Imax, o que significa que apenas algumas poucas pessoas de duas cidades terão o prazer de vislumbrar a experiência completa. Numa sala comum, creio que o filme perde todo o seu grande atrativo, e creio que se o tivesse visto dessa forma, provavelmente não teria gostado tanto. Mas é para isso que serve o espaço de comentários. Quem assistir em sala normal e quiser dizer se funciona bem ou não, fique à vontade.

Quem tiver a chance de ir ao cinema Imax, vá sem medo de ser feliz. E prepare-se para ser jogado em outro universo. Quando ganhou uma cacetada de Oscar por Titanic, James Cameron autointitulou-se o rei do mundo. Mas é com Avatar que fez valer esse título. Ao menos no mundo do cinema.

Não deixe de ver também o nosso videoreview. Se você chegou atrasado, é só clicar aqui e se divertir.