Como fazer um Testosterona Total

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Aumente seu nível de testosterona com o nosso especial Testosterona Total:
Duro de Matar 4.0: Yippee Ki Yay, mas sem motherfucker!
Tremendões Arnold Schwarzenegger: Ele foi enviado do futuro para se tornar governador da Califórnia.
Obras Fictícias: Contra: O primeiro filme a juntar Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone.
Top 5: Filmes de ação dos anos 80: Uma época mágica sem frescuras como história ou desenvolvimento de personagens.
As novas faces dos filmes de ação: Quem é o tremendão dos Testosteronas Totais atuais?
Top 5: Games Testosterona Total: Explosões, mulheres, big fuckin’ guns e você é o protagonista!

Testosterona Total talvez seja o gênero cinematográfico mais divertido de todos. Embora o nome seja uma invenção deste que vos escreve, eles já existem há muitos anos e são simplesmente um subgênero dos filmes de ação, que focam principalmente nas coisas que os homens gostam de ver na telona: explosões, piadas e mulheres gostosas com pouca roupa. Exemplos clássicos do gênero são os filmes do Schwarzenegger nos anos 80 e 90, sobretudo O Exterminador do Futuro 2, O Último Grande Herói e True Lies, mas recentemente temos visto uma nova onda do gênero, com os tremendões Carga Explosiva e Adrenalina. Em mais este especial humorístico delfiano, você vai aprender todos os segredos de como fazer seu próprio Testosterona Total e acredito que nunca surgiu um representante do gênero em nossas terras. Só garanta verba suficiente para as explosões.

PASSO 1: A CRIAÇÃO DO PROTAGONISTA

Antes de criar o herói, você precisa decidir a censura do filme. Se você quer um PG-13, classificação à qual pertence a maior parte dos clássicos do gênero, só poderá falar um único fuck e em contexto não sexual, então escolha muito bem onde vai colocá-lo. Se decidir por um R, (que é a classificação do Adrenalina), terá bem mais liberdade. Os fucks já são liberados e seu personagem vai poder fazer coisas como quebrar o braço do vilão e obrigá-lo a comer em seguida. Claro que isso fará com que você perca a maior parte do seu público, que são os adolescentes de 13 a 18 anos, então não é uma decisão recomendável. Lembre-se, também, que, além de adolescentes, seu público será 90% masculino, então não se preocupe em ser politicamente correto ou em apresentar mulheres como objetos. Ninguém leva esses filmes a sério mesmo.

O protagonista de um Testosterona Total tem que ser a definição de um tremendão. Ele precisa ser muito macho. Tão macho que chega a ser quase gay. Barba por fazer, cara de mau e um charutão na boca são características essenciais do visual. Ele deve ser o tipo de personagem que não olha para os dois lados antes de atravessar a rua, não faz filas, não pede licença e não pára em faróis vermelhos. Ele simplesmente não sabe o que é medo. É daqueles caras que pega uma dinamite acesa do chão para acender seu charuto. Ele não deve sorrir em nenhum momento do filme. Nem se a coadjuvante feminina ficar fazendo cosquinha nele. Sim, ele é macho a esse ponto. Na verdade, ele é tão macho que é capaz até de encarar um ônibus ou um trem a pé e desarmado. E vencer, sem levar nenhum arranhão!

Na personalidade, ele tem que ser mau. Mas não mau a ponto de se tornar um vilão. Na verdade, ele é um guerreiro incompreendido. Ele não bate em mulheres (a não ser que elas estejam armadas) e não mata crianças, mas se você tiver um pênis e mais de 18 anos, é melhor tomar cuidado com esse cara.

Nos anos 80 e 90, o herói também tinha que ser grande, ou pelo menos dar essa ilusão (como o Schwarzenegger, que tem tipo 1,50m de altura, mas que nos filmes parece ter três metros) e ser uma montanha de músculos. Ultimamente, esse paradigma tem sido quebrado, então os músculos não são mais algo essencial. Claro, se seu herói não for musculoso, ele tem que compensar isso com a cara de macho. Jason Statham que o diga.

Nosso herói pode fazer parte de uma organização, como a polícia, o exército ou mesmo o mundo do crime, mas tem que ser incompreendido dentro dela. Na verdade, uma parte presente em quase todos os longas do gênero é o momento em que o herói pisa na bola e é despedido. Mesmo assim, ele continua investigando o assunto e no fim é aceito de volta com honras.

Talvez o maior exemplo de um personagem perfeito para estrelar um Testosterona Total nunca tenha feito nenhum. Refiro-me ao Lobo, dos gibis. O cara é grande, forte, macho e praticamente indestrutível. Se um dia fizerem um filme dele, provavelmente vai ser o filme mais machão da história. Claro, também tem o Wolverine, mas os filmes do X-men estão longe de merecerem um selo de “Aprovado pelas autoridades do gênero Testosterona Total”.

PASSO 2: OS COADJUVANTES CÔMICOS

O humor é parte essencial de um Testosterona Total. Por mais que explosões e violência gratuita sejam legais, sem humor elas não se sustentam por 90 minutos. Via de regra, um bom coadjuvante cômico deve falar alto, ser chato, carente e medroso. Principalmente se você optar por um coadjuvante sidekick, embora existam outras opções que exijam menos desenvolvimento de personagem, como chefes e pessoas que aparecem só em momentos específicos do filme.

Se você optar por um sidekick, o gênero tem ótimos exemplos para inspirar você. O Exterminador do Futuro 2 teve John Connor. O Último Grande Herói teve Danny Madigan. Indiana Jones teve o japonesinho Shorty. Por mais que sejam personagens chatos e irritantes, são eles que vão se tornar os mais queridos dos seus filmes, então capriche na criação deles. Afinal, qualquer pessoa gosta de personagens que os façam rir.

PASSO 3: A (S) COADJUVANTE (S) FEMININA (S)

Por trás de todo grande homem, tem uma grande mulher. Ou pelo menos uma mulher com grandes seios. Um bom protagonista do gênero tem que ser comedor. Você pode optar por fazê-lo deixar um rastro de beldades apaixonadas (como James Bond ou Indiana Jones) ou dar para ele um único interesse romântico, com o qual ele pode até ser casado. Isso, é claro, não o impede de dar em cima de outras mulheres. Afinal, ele é macho! A não ser, obviamente, que ele esteja matando pessoas.

Um cara com os traços do nosso protagonista nunca se interessaria por uma dessas mulheres palito que normalmente vemos no cinema. Para atrair sua atenção, ela tem, no mínimo, que ser mais gostosa que a Pamela Anderson. Como isso é praticamente impossível (a não ser que nosso Testosterona Total seja uma animação), ela tem que ser uma daquelas mulheres ridiculamente lindas, como a Amy Smart (de Adrenalina), por exemplo.

A personalidade dela é o de menos, principalmente se você optar por encher o filme de beldades e não dar tempo de tela suficiente a nenhuma delas. Agora, se você optar por apenas uma, já terá que trabalhar um pouco mais na personagem. Ela precisa ser uma boa parceira para o nosso herói, mesmo que, a princípio, não saiba nada de seu gosto pela ação e violência. Jamie Lee Curtis, em True Lies, fez uma pacata dona de casa que, ao ser pressionada, demonstrou ter um gosto pela ação que rivalizava o de seu marido. Sem falar que habitou os sonhos de adolescentes do mundo todo graças a uma das melhores e mais famosas (sem falar, possivelmente, a mais engraçada) cenas de strip-tease do cinema.

PASSO 4: AS ARMAS E A CATCH-PHRASE

Uma das coisas mais importantes no gênero é a escolha das armas. Não interessa se é um filme futurista como Vingador do Futuro ou “passadista” como Conan: nosso herói tem que ter uma big fuckin’ gun, seja ela uma espada (que, tecnicamente, não é uma gun) ou um raio laser.

Claro, não podemos esquecer também de uma catch phrase. Essas são as frases que os adolescentes cheios de espinhas vão repetir durante anos nas partidas online de videogames. Talvez as mais famosas sejam “Hasta la vista, baby” e “I’ll be back”.

Na verdade, a frase pouco importa, o que faz com que ela fique famosa é que seja dita em um daqueles momentos exagerados e empolgantes, que deixa todo mundo com os olhos brilhantes. Se vier seguida de uma explosão imensa ou de um prédio desmoronando, então, ela pode até ser algo tipo “Atirei o pau no gato” ou “Ciranda cirandinha”.

PASSO 5: OS VILÕES

Essa é a parte mais fácil. Nada de personagens tridimensionais ou de conflitos ideológicos. Os vilões de um Testosterona Total são maus. E ponto. Ah, e de preferência estrangeiros. Se seu filme for falar sobre drogas, faça um vilão latino. Se for sobre terrorismo, faça-os árabes. Como já foi dito, não se preocupe em ser politicamente correto, já que ninguém vai levar seu filme a sério. Só não faça, de forma alguma, seu vilão ser negro. De acordo com as convenções hollywoodianas, negros só podem ser representados como caras legais, bons esportistas, bons dançarinos, bons jogadores de videogame e comedores, embora românticos, tudo isso ao mesmo tempo. Ah, e como chefes de departamento de polícia. Então, caso seu herói seja policial, não esqueça de contratar um ator negro para ser o chefe dele (eu pelo menos nunca vi um chefe de polícia no cinema que não seja negro).

Em nenhum momento o público deve ter a menor dúvida sobre quem é o vilão da trama. Na primeira cena, de preferência, já apresente seu malvadão, se possível vestido de preto, em uma cena envolvendo piscinas, mulheres peladas e um ou mais assassinatos (ou pelo menos uma tentativa). Para não confundir com o protagonista, que também envolve tudo isso, não esqueça de, já nessa cena em questão, fazê-lo espancar uma mulher indefesa ou uma criança.

PASSO 6: AS CENAS DE AÇÃO

Essa é a parte mais importante do filme. Lembre-se, não interessa o que você faça, seu filme será espinafrado por críticos de cinema chatos no mundo inteiro. Os únicos veículos que vão falar bem dele são os mais especializados, como o DELFOS, então se sinta à vontade para se afastar ao máximo da realidade. Afinal, realidade é para fracos.

Quer fazer seu protagonista subir uma escada rolante de moto enquanto atira nos vilões que o perseguem? Vai fundo. Ele não precisa nem usar as mãos (o que, aliás, foi feito de forma muito divertida em O Último Grande Herói). Uma cena que vale a pena citar para que você entenda seu grau de liberdade neste quesito é em Carga Explosiva 2, quando o herói tem que se livrar de uma bomba presa na parte de baixo do seu carro que vai explodir nos próximos segundos. Sem titubear, o cara passa por uma rampa, que faz com que o carro voe, vire de ponta cabeça e esbarre em um guindaste, que arranca a bomba no último segundo. Claro, o carro cai em pé e ele continua dirigindo normalmente. Esse é o tipo de cena ideal para você encaixar a catch phrase que já discutimos (no caso, podia ser algo como: “Essa foi uma manobra explosiva”), pois é o momento em que o público mais vai estar empolgado (e onde os críticos de cinema vão, provavelmente, sair da sessão, o que garante que eles ouçam a frase antes de sair).

Coloque seu herói nas situações mais escabrosas e faça-o sair delas sem nenhum arranhão. Mostre a invulnerabilidade do cara colocando-o em meio a explosões que matam todos os personagens presentes (não esqueça de incluir um policial a dois dias da aposentadoria) e faça-o escapar dali sem nem queimar a roupa.

E, claro, não interessa se ele é um policial ou um soldado do exército, ele terá que fazer tudo sozinho. E mesmo que tenha que encarar um país inteiro de vilões, fará tudo sem suar. E sem perder a cara de macho.

Mas cuidado, apesar da violência exagerada, não coloque nada muito explícito. Limite as mortes a coisas não tão violentas, como tiros ou explosões. Nada de colocar um olho queimado ou algo do tipo. A não ser, é claro, que você esteja visando uma classificação R.

PASSO 7: A TRILHA SONORA

Escolher a trilha é ainda mais fácil do que criar os vilões (o difícil vai ser conseguir os direitos autorais) e podemos resumir em um único gênero: Hard Rock. Mas nada de um Hard Rock fofinho, como a maior parte das músicas do Van Halen. Têm que ser músicas bem machas, mesmo que a banda escolhida faça, no geral, músicas fofas. Um bom exemplo é Bang Your Head, do Quiet Riot, que toca nos primeiros segundos de Adrenalina e que não deixam nenhuma dúvida sobre o que vamos assistir. Alguns outros exemplos de músicas pesadonas que foram muito bem escolhidas e ficaram famosas por causa do filme são Big Gun, do AC/DC (trilha de O Último Grande Herói) e You Could Be Mine, do Guns ‘n’ Roses (de O Exterminador do Futuro 2).

Se possível faça um videoclipe da música em questão colocando a banda junto ao protagonista da história. Os dois exemplos citados acima também fizeram isso muito bem, em clipes muito divertidos. Uma banda que, pelo que sei, nunca foi utilizada, mas que se encaixaria como uma luva é o Manowar, então fica a sugestão para o delfonauta aspirante a novo James Cameron. Tudo resolvido, vamos ao menos importante do nosso filme:

PASSO 8: A HISTÓRIA

Nosso herói é mau porque teve um passado doloroso. Você pode escolher se os vilões mataram sua esposa, seu filho, seus pais, seu coelhinho de estimação ou todos eles ao mesmo tempo. O que importa é que eles tenham cometido um big mistake e ele vai querer vingança! Ou pode até já ter tido a vingança. Isso serve apenas para justificar porque ele é tão durão.

Um bom exemplo de criatividade nas histórias do gênero é a série Desejo de Matar, com Charles Bronson. Lembra das propagandas de TV? “Eles mataram a sua família. Ele quer vingança. Charles Bronson em Desejo de Matar”. “Ele reconstituiu família. Eles a mataram. Ele quer vingança. De novo. Charles Bronson em Desejo de Matar 2” e assim sucessivamente. Eu só nunca consegui entender porque o cara continuava constituindo família e porque as mulheres continuavam casando com ele depois que um padrão se formou (e essa série durou cinco filmes)…

Outra boa opção é tentar colocar um ar claustrofóbico ou de urgência. Velocidade Máxima e Adrenalina fizeram isso muito bem, com uma história que pode ser perfeitamente resumida em um parágrafo, mas mesmo assim ser intrigante e emocionante. Se não conseguir pensar em nada, tudo bem. Aumente o tamanho das armas (e dos seios da protagonista) e o número de explosões e fica tudo certo.

Uma coisa que você tem que ter em mente é que um Testosterona Total é diversão pura. Se você quer misturar diversão com críticas sociais, faça um filme de zumbis, pois no gênero abordado aqui não há espaço para isso, a não ser que você queira diminuir a quantidade de explosões (e você não quer, nem pense nisso).

Pronto, em apenas oito passos, você já tem o esqueleto do seu Testosterona Total. Garanta um protagonista machão, um (ou mais) coadjuvantes cômicos, uma (ou mais) mulheres gostosas, um (ou mais) vilões realmente maus e mil (ou mais) explosões e mortes e seu roteiro está pronto. Você já pode ir atrás de verbas e patrocínios para financiar o primeiro Testosterona Total brasileiro. E não esqueça de agradecer o DELFOS nos créditos, hein? 😉

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