Detonator – Metal Folclore: The Zoeira Never Ends

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Não há dúvidas de que a maior banda de Heavy Metal da história foi o Massacration. Eles, que conquistaram um Disco de Plutônio-Triplo-Radioativo com as vendas do primeiro disco, lançaram seu último disco em 2009, e foi com muito pesar que o mundo viu se passarem cinco anos sem nenhum lançamento da banda mais importante do planeta. Porém, era óbvio que o mundo não ficaria largado por muito tempo, e eis que o vocalista da banda, Detonator, volta à ativa, agora em carreira solo e cantando em português!

E ainda que não esteja mais com seus compadres de banda, não podemos dizer que o filhinho do Deus Metal esteja mal acompanhado: ele agora conta com as Musas do Metal, escolhidas a dedo por ele para acompanhá-lo nessa jornada épica pelo Brasil. Com Iza Molinari na bateria, Juju Farias no baixo e Paulitchas Carregosa e Isa Nielsen nas guitarras (fora as muitas participações especiais), Detonator volta com tudo, em um disco solo conceitual 100% brasileiro.

DETONATOR E OS ASTROS DO FOLCLORE NACIONAL

A primeira coisa que é importante destacar aqui é a arte do disco. É de longe o disco brasileiro com o encarte e com o trabalho gráfico mais legalzudo em muito tempo. Sério, falo sem peso na consciência que eu nunca vi nada tão legal quanto este disco, e que abri-lo foi uma experiência absurdamente prazerosa. A riqueza de detalhes em todo o encarte é simplesmente impressionante.

A capa, feita por Rafael Louzada, já dá a tônica do que vamos encontrar. Ela parece ter sido pintada também, em um estilo bem próximo ao da capa do This Is Your Life. Isso já faz com que ela ganhe muitos pontos, pois sai do lugar comum de hoje em dia em que parece ser regra fazer capa com computação gráfica.

Vale destacar aqui também o design de alguns dos personagens. Mesmo estando todos em nível tão alto, devo dizer que ainda fiquei surpreso com alguns – vide a Mula-Sem-Cabeça, que ficou legalzuda ao cubo.

Desde as piadas na ficha técnica até as figurinhas – passando ainda pelo mini-pôster -, temos aqui um trabalho gráfico muito bem feito. Temos um encarte muito acima da média, em que os detalhes são tantos que você vai passar um bom tempo só procurando por eles. O alter ego do Detonator, Bruno Sutter, divulgou no Youtube um unboxing do álbum, que eu recomendo para que você tire as suas próprias conclusões.

QUAL É O NEGÓCIO?

A história por trás do disco é relativamente simples: Detonator apareceu na costa brasileira e foi resgatado por pescadores. Então, encantado com a beleza do lugar e com o povo brasileiro, toma para si a missão de fazer o povo brasileiro se orgulhar da sua cultura. Ele não fará isso sozinho, contudo. Para cumprir esta tarefa, ele contará com a ajuda dos personagens do folclore nacional.

Apesar da narração de Alexandre Frota em alguns momentos, boa parte da história e dos seus detalhes é dita no próprio encarte, em pequenos textos antes das letras. Essa foi uma ótima jogada, pois os textos possuem o tamanho exato para contarem o que é preciso ser contado e se encaixarem na introdução instrumental das músicas. Dessa forma, você lê o texto e entra no clima que a música quer passar, quase como em um filme. Detalhes como este de fato fazem a diferença.

O Bruno sabia que as pessoas iriam colocar o álbum do Detonator online, então resolveu tomar a dianteira e colocar ele mesmo o disco completo em seu canal no Youtube. Sendo assim, por que não ouvir lendo o nosso faixa-a-faixa? Pegue o seu guaraná grandão e gelado e divirta-se!

A primeira música, após a introdução, é a energética Metaleiro. Apesar de a letra estar em português e haver um natural estranhamento nas primeiras audições, ao se acostumar com este detalhe, se percebe que Heavy Metal em português pode sim funcionar. Em seguida vem Metal Zumbi, que é um verdadeiro desfile de riffs de guitarrras e conta com uma ótima performance de Iza nas baquetas.

Curupira foi a música que me deu mais prazer de cantar, pois traz um suingue que encaixa muito bem com a letra, além de um refrão poderoso. Em seguida vem Boto, que mesmo sendo uma música bem pesada com um ótimo refrão, é a primeira música a ter o problema que aparecerá em diversas faixas ao longo do disco: a falta de capricho nas letras, algo que eu vou abordar com calma mais à frente.

Boitatá é outra música que funciona muito bem, seguindo o alto nível dos riffs do disco, que não devem nada aos do Massacration. Mula-Sem-Cabeça vem em seguida, e apesar de apresentar muitas texturas e ter um instrumental interessante, segue o caminho oposto das outras músicas por não possuir um refrão tão legal quanto todas elas.

Em seguida vem Cuca, que começa bem rápida e sem rodeios. Aqui já é possível reparar que o Detonator não está mais se limitando a usar os monstruosos agudos que o marcaram na banda anterior. Apesar de eles ainda estarem lá, o estilo já não é o mesmo de antes, pois agora também há dobras vocais mais graves e em um volume mais alto que os agudos. Em seguida vem Saci, possivelmente a melhor música do disco junto com Metaleiro. Com uma gingada bem característica e um refrão feito para se cantar em multidões, nada mais justo do que ganhar um clipe.

Saquito é provavelmente a música mais “nonsense” do disco inteiro, mas que não deixa de ser curiosa. Já Qual é o negócio? é uma música tão animada quanto a faixa de abertura, só que com os backing vocals do Alexandre Frota, o que deixa tudo mais legal. Além disso, ela segue um caminho não muito comum ao mudar a melodia da segunda e terceira estrofes em relação à primeira. O álbum termina com Mestre do Santuário, música que não só traz uma participação especial muito bem-vinda como ainda abre uma brecha para o próximo disco.

HONRE E RESPEITE A SUA PÁTRIA: PRATIQUE O BOM PORTUGUÊS

Este disco mostrou que é possível fazer Heavy Metal em português, e que, apesar de haver músicas melhores que as outras, todas elas de alguma forma funcionam. É muito legal poder ouvir as músicas e logo de cara entender o que o vocalista diz, algo que em inglês não é tão natural por motivos óbvios.

Porém, é fato que algumas músicas teriam ficado melhores se as letras tivessem recebido mais atenção, porque nem sempre a métrica dos versos se encaixa tão bem na melodia. A meu ver, era necessário ter tido mais cuidado ao criar os versos para não cair no erro de colocar frases que não acompanhem a melodia e não a deixem natural, como aconteceu, por exemplo, nas músicas Boto e Cuca.

E aqui vale um adendo a respeito do humor do álbum. Ao contrário do que muita gente pela internet tem dito, não vejo o humor de Metal Folclore como estando pior agora do que era na época do Massacration. Vendo as letras dos discos da banda fica muito claro que elas eram tão escrachadas e toscas quanto as que encontramos aqui. A diferença é que, como aqui elas estão em português, a “zoeira” fica muito mais em evidência se comparada às dos tempos do Massas Crézio.

EU SOU METALEIRO COM MUITO ORGULHO, COM MUITO AMOR

Este disco é um achado. Apesar de ter seus altos e baixos, possui muito mais coisas boas do que ruins, e mostra que a musicalidade do Detonator continua afiada. Talvez com uma atenção a mais em determinados pontos fosse possível alcançar um resultado ainda melhor, mas esses detalhes podem ser corrigidos em um próximo álbum. Só nos resta torcer para que ele não demore outros cinco anos.

CURIOSIDADES

– Apesar de a imagem do Detonator na capa e no disco serem praticamente a mesma, elas são diferentes: a do disco é a foto que deu origem ao desenho da capa. Mais um pequeno detalhe que faz a diferença.

– Uma coisa bem interessante nos dois primeiros discos do Massacration era o fato de haver músicas com melodias vocais de outras bandas. Enquanto no primeiro disco o Detonator roubou a linha vocal de The Dark Ride, do Helloween, e usou em Metal Bucetation, no segundo disco ele usou a melodia de Battle Hymn, do Manowar, na música Sufocators of Metal. Em seu disco solo, ele também faz isso: a melodia vocal de Boitatá lembra muito a da música Hellrider, do Judas Priest.

– É possível comprar o álbum e mais diversos outros itens do Detonator no seu site oficial. Os produtos vão desde munhequeiras até ecobags (!!!)

– Recentemente, Fausto Fanti, o eterno Blondie Hammet, foi encontrado morto em seu apartamento, e por isso colocamos a sua foto na chamada da matéria. E, para encerrá-la, nada melhor do que uma homenagem ao maior guitarrista de todos os tempos, com aquela que eu considero a sua performance mais épica de todas. Descanse em paz, Fausto.