Kung Fu Panda

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Uma coisa que eu não consigo entender é a obsessão dos nossos meios de comunicação em massa pelo genérico. Por que investir tempo e dinheiro para fazer algo que já foi feito milhões de vezes antes? Por exemplo, absolutamente qualquer coisa bem-humorada que envolva artes marciais, tem aquela musiquinha Everybody was Kung Fu Fighting tocando.

Desde os trailers e comerciais de Kung Fu Panda, já pudemos perceber que as forças do mal genérico a colocaram no filme, o que mostra que ninguém envolvido no projeto sequer cogitou a possibilidade de fazer uma coisa legal, criativa ou nova. É mais ou menos como aquela mania que os programas jornalísticos têm de tocar Born to be Wild em qualquer coisa que envolva motoqueiros ou estradas. E a mensagem que passa não é “olha, escolheram uma música tudo a ver, que genial”, é apenas “isso é meu trabalho, eu odeio ele, não entendo nada do assunto e quero sair logo daqui para ir jogar videogame lá em casa e sacrificar alguns bodes”. Aliás, optar por algo tão óbvio quanto essas músicas em coisas com esses temas lembra aqueles trabalhinhos de faculdade de senhores que estavam mais interessados em fazer graça do que em fazer algo bom.

Ok, você pode dizer que eu estou exagerando. Afinal de contas, é só uma música. Sim, realmente é só uma música, mas ela dá o tom para tudo o que vemos aqui. Kung Fu Panda é completamente genérico, percebe-se que não foi algo planejado ou feito com o carinho que deve envolver qualquer obra de arte. Isso não é arte, é apenas um produto a ser vendido pelo maior preço possível. E é uma pena que seja assim. Dá uma olhada na ficha técnica aí do lado e tente se lembrar de qualquer outro filme que traga um elenco desse nível. Pô, só tem gente legal. Só que, como isso é claramente um produto sem nenhum pingo de criatividade, nem os atores parecem ter se esforçado em criar algo digno de nota. Aliás, eu nem reconheci as vozes da maior parte deles e, sinceramente, não me lembro do personagem atribuído ao Jackie Chan ter falado qualquer coisa.

A história segue contribuindo para o meu argumento de que foi um filme feito no piloto automático. Tem um panda que gosta de Kung Fu, mas que se sente preso sendo um atrapalhado cozinheiro. Ele almeja ser alguém mais especial. Para ser o mais óbvio possível, ele vai descobrir que pode fazer qualquer coisa, desde que acredite nisso.

Aliás, esse tipo de mensagem em filmes infantis, embora esteja presente em quase todos, me incomoda muito. Isso condiciona nossas crianças a querer ser alguém famoso e admirado e, quando elas crescerem e se tornarem genéricas, vão ficar eternamente frustradas. Sem falar que você não pode fazer qualquer coisa que pense que pode. Ou por acaso se você pegar um violino acreditando que pode ser um novo Mozart vai imediatamente compor coisas tão especiais quanto ele? É claro que não. Você não é Mozart, é apenas um nerd satanista cuja alma pretendo salvar.

Ok, o filme não é de todo ruim. É visualmente bem bonito e tem algumas boas piadas, mas a história é tão básica e o negócio tem tanta cara de produto que fica difícil recomendá-lo para qualquer um que exija algo mais de sua arte.

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
kung-fu-pandaPaís: EUA<br> Ano: 2008<br> Gênero: Comédia/Ação<br> Elenco: Jack Black, Dustin Hoffman, Angelina Jolie, Ian McShane, Jackie Chan, Seth Rogen, Lucy Liu, David Cross e Michael Clarke Duncan.<br> Diretor: John Stevenson e Mark Osborne<br> Distribuidor: Paramount<br>