Os Fanboys Mais Sortudos do Mundo

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Ah, os fanboys. Essas criaturas que conseguem ser genuinamente apaixonadas pelos seus ídolos ou obras fictícias, não importa quão falhas elas sejam ou quão infantil essa devoção pareça. Os que se deixam comover, sem ironia, pelas emoções da ficção, e que estão dispostos a dedicar horas discutindo e dissecando, indo a shows, convenções e pré-estreias, movidos apenas pela empolgação que seu ídolo inspira.

Hollywood está cheia de fanboys que passaram para o outro lado. Antes de dirigir, Tarantino trabalhava numa locadora e assistiu a todos os filmes que tinha lá. Kevin Smith vendeu sua coleção de quadrinhos para completar o orçamento de O Balconista. Nathan Fillion joga Halo e ainda brinca com seu Sabre de Luz. Jennifer Lawrence quase teve um treco ao conhecer Jack Nicholson. A lista é enorme.

Até os nossos heróis têm seus heróis: o tremendão Phil Coulson desafia a própria morte, mas ainda gagueja como uma menininha na frente do Capitão América. Tim Drake stalkeou tanto o Batman que acabou virando sidekick dele. Nem o apocalipse zumbi impediu o Tallahassee, de Zumbilândia, de conhecer o Bill Murray. E o Deadpool ficou totalmente sem graça ao conhecer – e ser espancado – pelo Thor.

Mas nesta lista nós veremos os que foram ainda mais além. Eles têm um ídolo específico, um só objeto de devoção, um único emprego dos sonhos. E eles chegaram lá. Sorte? Talento? Anos e anos de stalking obsessivo? Nunca se sabe. Mas eles chegaram lá. E algumas das histórias são tão impressionantes que, se fossem ficção, seriam risíveis de tão improváveis. Mas são reais.

MENÇÃO HONROSA: EU!

Bom, fangirl é o meu nome do meio. Normalmente eu me dividido igualmente entre várias pessoas/obras/personagens, que costumam variar com o tempo, mas a obsessão o entusiasmo é sempre o mesmo. Eu vou sempre estar correndo em círculos e guinchando a respeito de algum livro, filme, série, banda, HQ ou algo do tipo. Um tempo atrás, um dos meus objetos de stalking eram os delfianos. Eu descobri o DELFOS por volta de 2010 e imediatamente me identifiquei com os textos daqui. Nem sempre concordava com as opiniões, mas sempre curti a liberdade de poder dizer “eu gosto” ou “eu não gosto” ao invés de “é bom” e “é ruim”.

E eu stalkeava mesmo. Eu comentava em praticamente tudo, fui ao lançamento do livro do Cyrino (eu e o Ledzippn) e no do Rezek, mandei perguntas para a entrevista com o Corrales e no último Encontro Delfiano eu fui a primeira a chegar e a última a ir embora. E eu também gosto muito de escrever, então quando surgiu a oportunidade, eu resolvi tentar. E agora estou aqui, escrevendo diariamente, indo a cabines de imprensa e participando das Reuniões Secretas no Oráculo. E o Ditador já me prometeu que eu posso governar o Reino Unido depois da dominação global. Quem dera todos os meus stalkings rendessem tantos frutos!

E agora, vamos à nossa listinha propriamente dita.

6 – WAGNER MOURA CANTA COM O LEGIÃO URBANA

Ano passado, a MTV promoveu uma programação especial para homenagear o Legião Urbana, que incluía dois shows, em que Paulo Bonfá e Dado Villa-Lobos se juntariam para tocar os clássicos da banda. Para acompanhá-los nos vocais, eles chamaram Wagner “Capitão Nascimento” Moura. Qualquer pessoa se sentiria honrada, mas acontece que o Wagner é um fanboy da banda.

Ele inclusive já falou em entrevista ao DELFOS que sempre dá um jeito de colocar a banda dele nos filmes, e de preferência com ele cantando alguma música do Legião.

Como vocalista, ele é um excelente ator e as reclamações foram muitas, mas provavelmente ele nem se preocupou em verificar o que as pessoas acharam de sua performance. Só a experiência já deve ter sido recompensa suficiente. A empolgação dele era contagiante e ele repetiu várias vezes que foi “a noite mais emocionante de sua vida”.

5 – ANDREW GARFIELD VIRA HOMEM-ARANHA

Quando o reboot cinematográfico do Homem-Aranha foi anunciado, muita gente torceu o nariz. Afinal, a ultima adaptação ainda era muito recente e bastante querida. E quando Andrew Garfield foi escolhido como o novo intérprete do cabeça-de-teia, muita gente reclamou ainda mais. Mas aí ele começou a dar entrevistas a respeito e, claro, qualquer ator diria que “gostava do Spidey desde criança”, mas ele foi muito além disso. Ele se revelou um grande fanboy, dando discursos sempre carregados de emoção e entusiasmo a respeito do personagem, do significado que ele teve em sua vida e de como interpretá-lo era um sonho realizado.

Eu esperei por este telefonema por 24 anos”, ele disse em uma delas. “Por alguém me ligar e dizer ‘hey, queremos que você finja ser o personagem que você sempre quis ser sua vida toda, e nós o faremos com câmeras e efeitos legais e você vai se sentir como se estivesse se balançando por Nova Iorque. Você quer fazer isso?’ ‘Um minuto, deixa só eu consultar o meu eu de sete anos e ver o que ele acha’, e aí o meu eu de sete anos começou a gritar na minha alma e dizer: é isso o que você sempre esteve esperando (…) Então é, eu tenho me preparado para isso há um tempo. Desde o Halloween quando eu tinha quatro anos e usei minha primeira fantasia de Homem-Aranha”.

E só essa fanboyzice que o rapaz mostrou pelo papel conseguiu deixar muita gente empolgada pelo filme, afinal, uma interpretação tão passional não poderia ficar ruim. Ele chegou a chorar na primeira vez que colocou o traje, por Odin. No fim, o filmenão causou grandes reações, nem positivas nem negativas, mas concordemos que só ver o quão feliz ele parece no personagem já foi um ponto positivo.

4 – SIMON PEGG VIRA ZUMBI E FAZ UMA JORNADA NAS ESTRELAS

Ser geek significa ser honesto sobre o que você curte e não ter medo de demonstrar essa afeição. Significa nunca ter de parecer indiferente sobre o quanto você gosta de algo. É basicamente uma licença para se emocionar orgulhosamente num nível quase infantil, ao invés de agir como um suposto adulto. Ser geek é extremamente libertador”.

Uma definição perfeita, certo? Ela vem do simpático britânico que ficou conhecido junto com seus companheiros (e também fanboys) Nick Frost e Edgar Wright, da sitcom Spaced e do filme Todo Mundo Quase Morto, cujo sucesso se deve justamente ao nível altíssimo de nerd pride. A parceria dos três continuou com Chumbo Grosso e agora The World’s End, mas o carinho dos três pela cultura pop já os levou muito além: Simon já apareceu em Missão Impossível e trabalhou até com o tremendão Steven Spielberg em As Aventuras de Tintim.

Em algum lugar em mim tinha uma criancinha pulando pra cima e para baixo, tipo ‘não acredito que isso está acontecendo!’”, ele comentou. O sucesso de Todo Mundo Quase Morto inclusive garantiu a ele e ao diretor Edgar Wright papéis de zumbi num filme de ninguém menos que o próprio George A. Romero.

Mas nada disso se compara a ter conseguido o papel de Scotty no reboot de Star Trek. Ele é um trekker alucinado desde os nove anos, assistia diariamente e mal acreditou quando foi chamado. Entrando na Enterprise pela primeira vez, ele disse que se sentiu como Neil Armstrong pisando na lua. Agora ele estará de volta para a sequência, e a empolgação ainda é a mesma.

Eu me lembro de ler o roteiro de Into Darkness quando estava em Nova Iorque”, ele conta. “Eu estava com um amigo e disse que subiria para o quarto para ler – só algumas páginas – e voltaria em 20 minutos, porque estávamos no meio das compras de Natal. Cinco minutos depois eu liguei para ele e disse ‘eu não vou mais descer’. Eu li a coisa toda, devorei, e estava pulando ao redor do meu quarto, gritando de alegria”.

Ele é uma das minhas celebridades favoritas justamente pelo fato de ser tão assumidamente nerd, e de continuar se empolgando mesmo depois de ter chegado tão longe. Uma vez, na Comic-Con em San Diego, ele passou a tarde dando autógrafos e no final entrou na fila para pegar o autógrafo da Carrie Fisher, a Princesa Leia. Mesmo sendo um ator e escritor premiado, ele ainda é um de nós e não nega.

3 – TIM “RIPPER” OWENS ENTRA NO JUDAS PRIEST

Lembra daquele filme Rock Star, que tem o Mark Wahlberg e a Jennifer Aniston e conta a história de um cara que era super fã de uma banda e que mais tarde acaba cantando na mesma? Claro, praticamente todos os músicos são fanboys de algum outro músico, mas um cara que vira o frontman da banda que tanto ama já é exagero, certo? Só acontece em Hollywood mesmo.

Mas acontece que aquele filme é inspirado na história de um lucky bastard real: Ripper Owens. Ele era só um fanboy de Metal que cantava na British Steel, uma banda cover de Judas Priest. Não se sabe se é só talento natural ou se foram muitos anos imitando na frente do espelho, mas o Ripper tem uma voz bastante parecida com a do lendário frontman do Judas, Rob Halford. E a banda acabou chamando atenção de gente importante. “Um amigo do Scott Travis [baterista da banda] me viu no meu último show com a British Steel, e ele gravou em vídeo. Um ano depois eu recebi a ligação”, contou Ripper.

A gravação foi mandada para os caras da banda, que viram aí uma oportunidade de sair do hiato em que estavam desde que o Halford saiu. E assim Ripper, o fanboy abençoado pelo Vento Preto, virou o vocalista oficial do Judas Priest. Inclusive o apelido Ripper foi dado pelos caras da banda após ver a excelente performance do sujeito na música em questão.

Eventualmente o Rob voltou, mas aí ele já tinha se firmado como vocalista. Depois que saiu do Judas, ele gravou dois discos com o Iced Earth, cantou para Yngwie Malmsteen, e toca no dia 15 de junho em São Paulo com o Dio Disciples, grupo formado pela ex-banda do Dio e que faz um tributo ao grande baixinho, entre outros projetos. E agora tem seus próprios fanboys.

2 – EVANNA LYNCH VIRA UMA PERSONAGEM DE HARRY POTTER

Gostando ou não das adaptações cinematográficas de Harry Potter, temos de admitir que nem todos os membros do elenco são lá grandes atores. Alguns dos personagens mais jovens, principalmente, saíram um tanto inexpressivos. Não é o caso da Luna Lovegood, que teve uma interpretação muito inspirada de uma estreante chamada Evanna Lynch. Vendo o quão familiar e confortável ela parecia na personagem, é fácil deduzir: ela era fã.

Em 2003, o livro Harry Potter e a Ordem da Fênix estava para sair, e Evanna, aos 11 anos, vivia numa pequena cidade da Irlanda com sua família e seus gatinhos, todos batizados em homenagem aos personagens da saga. Ela já tinha lido e relido os anteriores várias vezes e estava ansiosa pelo lançamento, planejando acampar na frente da livraria com a irmã mais velha para comprar a primeira cópia. No entanto, na ocasião ela estava internada para se tratar de anorexia. Mas nem isso a parou: seus pais conversaram com a equipe do Hospital e conseguiram que ela fosse liberada por uma hora para ir até a loja e pegar seu livro, autografado pela própria J.K. Rowling.

Anos depois, foi a vez de este livro chegar ao cinema, e abriram os testes para o papel de Luna Lovegood. Ela prontamente se candidatou, e foi fazer o teste vestida com o tipo de roupa que ela achava que a Luna usaria, e ainda um par de brincos de rabanete iguais aos descritos no livro, feitos por ela mesma. Ela já sabia os diálogos tão bem, e acreditava tanto na personagem, que não deu outra: ela bateu as outras 15.000 concorrentes e ficou com o papel. E aquele par de brincos acabou adotado pelos figurinistas, que depois de contratar diversos designers de jóias para criá-los, perceberam que os dela eram mais “Luna” e os usaram no filme.

E a interpretação foi tão genuína e feita com tanto carinho que a própria J.K. ficou impressionada. Quando perguntada se ela pensava nos filmes enquanto escrevia os livros, J.K. disse prontamente que não, mas que a Luna do cinema era a exceção. “A única atriz que já se intrometeu enquanto eu escrevia foi Evanna Lynch, que é absolutamente perfeita como Luna. Tenho que admitir que até ouvia a voz dela em minha cabeça enquanto escrevia”, disse ela. Enquanto a maioria das fangirls já ficaria feliz em ser como a personagem, Evanna foi além e passou a ser, literalmente, a personagem.

Mas nenhum supera o nosso primeiro lugar.

1 – DAVID TENNANT VIRA O DOCTOR WHO E MUITO MAIS

Doctor Who é como Star Wars ou Star Trek: é uma franquia que está na ativa há tanto tempo, que é inevitável que as equipes atuais sejam formadas por gente que era fã quando mais jovem. E também é tão legal que mesmo quem não era fã acaba virando, quando entra em contato. O atual intérprete, Matt Smith, é um exemplo: ele entrou para o elenco sem muita experiência, e agora escreve até fan fiction sobre seu personagem.

Mas aí temos David Tennant, o décimo Doutor. Ele é um dos atores mais queridos que passaram pela série, e grande parte dos fãs (eu inclusa) o considera um dos melhores intérpretes, ou pelo menos o melhor desde o reboot. E isso se deve não só a ele ser um ótimo ator, mas também ao conhecimento absurdo e ao carinho enorme que ele tem pelo personagem. David Tennant é fanboy desde a longínqua década de 70, quando ele era só o pequeno David McDonald, uma criancinha no interior da Escócia. Ele era um fã tão obcecado por Doctor Who – mais especificamente por Peter Davison, o quinto Doutor – que resolveu com apenas três aninhos que queria ser ator, só para viver o personagem.

A série acabou cancelada em 1996, mas Tennant prosseguiu com seu sonho e virou um ator de sucesso, ganhando certo renome no teatro e na TV. Até que, por volta de 2005, ele descobriu que tinha um cara – Russell T. Davies, outro fanboy assumido – planejando reviver a série, e não perdeu a chance de se candidatar ao papel para o qual se preparou a vida toda. A princípio ele perdeu para o também excelente Christopher Eccleston, mas um ano depois, quando este teve de deixar a série, ele finalmente conseguiu. Ganhou o papel, e como eu já comentei, foi aprovado por público e crítica. Sonho realizado, certo? Quase.

Logo na primeira temporada dele na série, veio o episódio School Reunion, em que ele teria de contracenar com a atriz Elisabeth Sladen, a Sarah Jane Smith, uma das acompanhantes mais tremendonas que o Doutor já teve, que até ganhou seu próprio spin-off, As Aventuras de Sarah Jane. Só conhecê-la já seria emocionante para Tennant, imagine então como foi contracenar com ela e tê-la como sua acompanhante! O episódio é muito legal e a empolgação dele transparece durante cada cena deles juntos. É muito bonitinho.

Pouco tempo mais tarde, ele ainda fez o mini-episódio Time Crash, um especial para a maratona beneficente da BBC. Nele, um problema na TARDIS causa um paradoxo no tempo que resulta num encontro do Doutor com sua quinta encarnação. Sim, Tennant contracenou com o próprio Peter Davison, seu grande ídolo, a inspiração que o levou até ali. A emoção foi visível, e não só dele, como também do roteirista (e fanboy) Steven Moffat, do diretor, e de toda a equipe. “Se eu pudesse mostrar isso para o meu eu de 11 anos, ele derreteria!”, Tennant comentou.

Agora sim, sonho realizado, certo? Não. Ainda não. Como se isso tudo não fosse suficiente, ele ainda se casou com uma atriz chamada Georgia Moffett, e adotou seu filho Ty, que já tinha dito publicamente que seu intérprete favorito do Doutor era ele. Ter um fã como filho adotivo já é legal, mas o importante mesmo é que Georgia é filha de um senhor chamado Peter Moffett, também um ator, que tem por nome artístico… adivinha: Peter Davison! É isso aí, delfonauta. Ele não só virou colega e sucessor do seu grande herói de infância, como também seu genro. Ou seja, fim de jogo. David Tennant Wins.

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