Shaaman – Reason

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Quando comecei a gostar de Heavy Metal, há muito, muito tempo, o vocalista Andre Matos foi um dos primeiros que admirei, graças à sua técnica apurada e um timbre predominantemente suave, contrário a como era o Metal na minha cabeça. Isso fez com que o Angra, que na época ainda não tinha nem lançado o Holy Land, se tornasse uma das minhas bandas preferidas, mesmo tendo apenas um disco. Afinal, meu conhecimento musical estava apenas começando.

Embora naquela época já tivesse ido a muitos shows, já que minha mãe me levava com ela sempre que a censura permitia, o Angra foi também o primeiro show de uma banda que assisti onde conhecia todas as músicas. Foi também uma das bandas que mais assisti ao vivo até hoje, graças ao fato de estarem sempre tocando em São Paulo (e aproveite para ler o primeiro show dos caras com cobertura delfiana).

Admito que nunca entendi direito aquele pessoal que criticava o vocal de Andre pelo fato de ser agudo demais. Para mim, ele estava no topo da minha lista de vocalistas preferidos, ao lado do Michael Kiske, que gravou os clássicos absolutos Keepers of the Seven Keys com o Helloween.

Parece que essas reclamações atingiam Matos de alguma forma. Já no Fireworks, de 98, sua voz estava bem diferente dos discos anteriores, mais grave e agressiva. A mudança foi ainda maior no disco de estréia do Shaman (ainda antes de ganhar a segunda letra A – leia resenha do DVD) e o vocalista que vemos cantando neste Reason em pouco lembra aquele com quem acompanhei no som da minha casa as linhas de clássicos do Metal tupiniquim, como Evil Warning, Never Understand, Streets of Tomorrow ou Stand Away. E imagino que agora o amigo delfonauta pode perceber onde eu quis chegar com essa longa introdução.

Reason traz um Shaaman bem diferente não apenas no nome. É difícil de ter certeza se a banda optou por esse caminho por causa das freqüentes reclamações feitas ao outrora agudo vocal de Andre, para se afastar do estilo praticado pelo Angra, ou simplesmente porque esse é o som que eles querem fazer agora. Obviamente, essa última opção é a que será divulgada pela banda em todas as entrevistas, mas eu sinceramente tenho minhas dúvidas. Infelizmente, na minha opinião, a voz de Andre não soa tão bem quando ele canta mais grave e/ou mais pesado.

À primeira vista, Reason parece ser um CD bem pesado, já que a faixa de abertura, Turn Away pode ser considerada a mais pesada já gravada pelo grupo. Porém, o álbum também conta com várias baladas, formando um todo bem equilibrado, o que é bom para uns, mas péssimo para outros. Dentre as mais lentas, a famosa Innocence é a que mais merece destaque, por ser a que mais nos lembra a saudosa época de um Angels Cry, principalmente no vocal, embora não tenha o mesmo carisma das baladas daquela época, como as já citadas Never Understand e Stand Away. Das mais pesadas, além de Turn Away, merecem destaque a Maideniana Scarred Forever (aproveite e leia a resenha do mais recente show do Maiden em nossas terras) e a faixa-título. O setlist também traz um desnecessário cover para More, do Sisters of Mercy, que não acrescenta nada ao disco.

Ao terminar a audição, senti falta de um daqueles hits pegajosos, como a Pride, que ainda considero a música mais legal do Shaman. Também senti falta das experimentações com sons brasileiros, como fizeram no início da For Tomorrow, que é um dos melhores momentos do álbum de estréia. Para falar a verdade, até tem um pouquinho disso na In the Night, mas esperava bem mais. Outra falta sentida foram as antes tão presentes influências clássicas. Embora Reason conte com alguns instrumentos clássicos em determinados trechos (não é uma orquestra, não acredite em quem disser isso), eles estão lá mais para dar uma atmosfera ou ressaltar a melodia. Fazem bem menos para gerar um clima clássico do que faziam os teclados na época do Holy Land, quando a banda ainda não tinha dinheiro para essas xurumelas. 🙂

O encarte, embora bonito, é bem triste e chega a lembrar até os de bandas góticas. Tem até uma modelo nua. Mas calma, babões de plantão. A intenção de suas fotos é claramente artística e não sensual, pois ela não nos deixa ver nada. E, de qualquer forma, é uma modelo, ou seja, apesar de bonita, tem bem pouco para vermos.

Uma grande vantagem do novo disco é que ele não é mais lançado pela Universal, uma das gravadoras mais sem noção na hora de colocar os preços em seus produtos, que não raro passam de 30 reais na Galeria do Rock de São Paulo. Imagino que em um shopping acabem saindo mais de 40. Felizmente, é possível conseguir Reason por pouco mais de 20 reais. Mais do que um CD deveria custar, é verdade, mas quase metade do preço que era cobrado pelo álbum anterior.

Também merece ser comentada a confusão com o nome da banda. Oficialmente, o nome deles é Shaaman, mas o logo não foi modificado (será que o ilustrador cobrou caro demais?). Conseqüentemente, o nome com dois A’s aparece apenas pequenininho no encarte, na parte onde fala dos instrumentos usados pela banda. Em todas as outras referências, como na capa ou do lado da caixinha, aparece o nome como era antes: Shaman. Convenhamos, Shaaman é muito feio, mas se a banda tem que mudar o nome deveria fazê-lo em todos os locais do CD, senão pode causar um sério problema de identidade visual, além de confundir os fãs.

Enfim, Reason é um álbum mais Metal Tradicional, mais próximo de um Iron Maiden (ouça o final de Rough Stone ou a sintomaticamente intitulada Iron Soul e diga se não concorda comigo) do que de um Helloween. Se você é daqueles que sempre se incomodou com a voz suave de Andre Matos, talvez seja a hora de dar mais uma chance para o cara. Já vi muita gente comentando pela Internet que agora dá para ouvir, porque antes era insuportável. Minha opinião é inversa a esta e digo que dificilmente vou ouvir esse CD de novo, pois quando quero ouvir Metal Tradicional, tenho outras bandas que vêm antes do que o Shaaman na minha lista. Contudo, para fãs desse novo som dos caras ou para os desafetos do som antigo, vale a pena ouvir. Vai que você discorda de mim. 😉