Timo Tolkki’s Avalon – Angels of the Apocalypse

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Depois de muitas confusões, ofensas gratuitas, choro, ataques de histeria, crises de bipolaridade, projetos falidos e demais emoções intensas que dariam uma excelente novela do plim-plim, Timo Tolkki, o ex-guitarrista e compositor do Stratovarius, finalmente retomou as rédeas de sua vida e continuou sua carreira musical.

Seu trabalho mais recente foi o Timo Tolkki’s Avalon, um projeto de ópera metal nos mesmos moldes do Avantasia. O primeiro álbum, The Land of New Hope, foi lançado no início do ano passado e conseguiu uma boa aceitação de crítica e público. Particularmente, eu o achei um álbum nada: legal da primeira vez que se escuta, mas com nenhum atrativo para fazê-lo ser ouvido novamente.

Embalado pelo sucesso, Tolkki resolveu já começar as gravações do próximo disco do projeto e, após exatamente um ano, o Angels of Apocalypse finalmente chegou às lojas mundiais. E fico triste em dizer que é uma das maiores porcarias que eu já tive o desprazer de ouvir na vida. Mas antes de discorrer sobre isto, vamos falar sobre os convidados.

CANTINHO DAS ESTRELAS

Para o primeiro álbum do Avalon, Tolkki havia convidado um verdadeiro time de estrelas. Na parte instrumental, ele mesmo ficou com a guitarra e o baixo e chamou Alex Holzwarth, do Rhapsody of Fire, para a bateria. Os teclados ficaram com Mikko Härkin, ex-Sonata Artica, mas os lendários Derek Sherinian e Jens Johansson fizeram uma ponta. Entre os vocalistas, Michael Kiske, Tony Kakko e Russell Allen foram alguns dos que marcaram presença.

Para este segundo álbum, Tolkki volta a cuidar da guitarra e do baixo e chamou Tuommo Lassila para a bateria e Antti Ikonen para os teclados. Caso você não se lembre, ambos eram membros do Stratovarius, mas deixaram a banda em 1995.

A única artista do disco anterior a retornar aqui é a sueca Elize Ryd, do Amaranthe. Ela vem recebendo certa atenção da mídia metálica recentemente, mas eu sinceramente a acho uma vocalista bem mediana. E nada me tira a impressão que ela quer ser uma espécie de Britney Spears do metal, o que me faz levar a moça pouco a sério.

A lista de vocalistas segue com:

Fabio “arroz-de-festa” Lione, do Rhpasody of Fire e do Angra, que nos últimos anos vem sendo convidado para participações especiais mais do que eu fui convidado para festas a vida inteira. Não que isto seja algo ruim;

Simone Simons, vocalista do Epica e sonho de consumo de qualquer ser humano que se preze, independente do sexo ou orientação sexual;

Zak Stevens, vocalista do Circle II Circle, mais conhecido por ter cantado no Savatage durante quase toda a década de 90;

Floor Jansen, vocalista do ReVamp e frontwoman do Nightwish, pelo menos até o Tuomas se enjoar dela;

David DeFeis, o temperamental vocalista do Virgin Steele e provável resultado de um experimento que misturou os DNAs de Joey DeMaio e Eric Adams para criar uma única pessoa.

– E Caterina Nix, de quem eu nunca ouvi falar. Ah, mas isto deve ser porque, de acordo com a Encyclopedia Metallum, o nome verdadeiro da moça é Cati Torrealba e ela é vocalista da banda chilena Aghonya… da qual eu também nunca ouvi falar.

Pode não ser um time tão renomado quanto o do primeiro disco, mas são quase todos artistas de grosso calibre que já provaram seu talento inúmeras vezes. Então, era de se esperar um resultado ao menos satisfatório, né? Na pior das hipóteses, vai sair um álbum nada que não é nenhuma maravilha, mas também não chega a ser pior coisa do mundo. Mas como já dizia a minha avó, “quanto maior o poder, maior a queda”.

APOCALIPSE MUSICAL

Normalmente, comento sobre a produção de um álbum no final da resenha, até porque não há muito para se falar na maioria das vezes. Mas hoje vou começar falando dela, pois é a primeira coisa que se percebe quando o disco começa a tocar. Mas só no próximo parágrafo, para aumentar o suspense.

A produção e mixagem deste disco, feita pelo próprio Timo Tolkki, é medonha. Em alguns momentos, os vocais estão muito altos e os instrumentos são só uma brisa leve, como se eu estivesse ouvindo um show do lado de fora de um bar. Em outros, o instrumental aumenta, mas os vocais ficam abafados. E esta variação vai acontecendo aleatoriamente por quase todo o álbum.

O teclado e os coros épicos vivem se sobrepondo, como se estivessem brigando para ver quem fica mais alto. O baixo parece que foi gravado em uma dimensão paralela, pois embora você consiga sentir levemente a presença dele, não consegue identificá-lo com clareza por mais que se tente. Os solos de guitarra são gloriosos, devo admitir, mas nas outras partes das músicas, o instrumento acaba sofrendo da variação de volumes.

Eu simplesmente não consigo entender como isto sequer foi aprovado. Se eu que sou totalmente leigo consigo perceber todas estas falhas, como um cara com a experiência do Timo Tolkki não percebeu? Já vi coisa bem mais profissional vinda de bandas independentes ou de pequeno porte. O engraçado é que o Timo também produziu o disco anterior e ele não tinha problema algum neste aspecto. As únicas desculpas que eu consigo pensar para isto é que ou ele comprou um equipamento novo no qual não sabia mexer, ou ele sofreu uma crise de ansiedade das brabas e fez uma revisão detalhada.

As composições também não ajudam em nada e geralmente não passam de chatas e medíocres. Pra você ter ideia, a faixa de introdução, Song For Eden, não possui instrumento algum, apenas o Fabio Lione cantarolando por 46 segundos. Quem diabos achou que esta foi uma boa ideia?

Jerusalem Is Falling (cantada por Fabio Lione), Design the Century e The Paradise Lost (ambas por Floor Jansen) até poderiam ser músicas de power metal divertidas com um pouco mais de esforço, mas são chatas e totalmente esquecíveis. Eu juro que acabei de escrever este parágrafo após ouvi-las e não consigo sequer me lembrar do refrão de nenhuma delas. A segunda até ganhou um clipe, tão chatinho quanto a própria música.

A entediante balada You’ll Yawn Bleed Forever é aonde podemos conhecer a voz da tal da Caterina Nix e devo dizer que a primeira impressão não foi lá das melhores. Ela até tem potencial, mas precisa melhorar muito o controle da sua voz. Mesmo com a péssima produção dá para perceber isto.

A outra balada, High Above of Me (por Simone Simons, Elize Ryd e Caterina Nix) é chata, arrastada, sonolenta, sem emoção e nada memorável. Okay, o solo de guitarra no final é excelente, mas você provavelmente não vai ouvi-lo porque estará dormindo na poltrona, sonhando com o próximo disco do Soulspell.

Há apenas duas faixas boas aqui. Stargate Atlantis lembra bastante as canções mais memoráveis do Stratovarius, como Eagleheart. A guitarra e o teclado infelizmente estão muito baixos, mas Fabio Lione leva a canção nas costas.

Neon Sirens, a outra faixa boa, tem uma pegada mais progressiva. O instrumental está muito mais audível e não sobrepõe a voz de Zakk Stevens, que está excelente. Infelizmente, resolveram colocar um péssimo efeitinho vocal para auxiliá-lo no refrão, o que prejudica bastante.

Angels of the Apocalypse é a pomposa faixa de encerramento, cantada pelas quatro moças. Com nove minutos de duração, ela deveria ser usada por terapeutas como exercício de paciência, porque ouvi-la inteira não é para qualquer um. O último minuto da música, onde uma soprano fica repetindo “Angels of the… Apocalypse” até o final, é torturante.

O disco ainda tem uma outro instrumental, Garden of Eden. Ouvi-la é um alívio, pois você percebe que seu sofrimento acabou. Mas eu deixei uma surpresa para você, delfonauta.

HOLOCAUSTO SONORO

Fiz questão de deixar a quarta faixa para o final deste texto. Rise of the 4th Reich é a pior faixa lançada este ano. Talvez a pior faixa lançada na história das operas metal. A voz de David DeFeis simplesmente não casa com o instrumental em nada e ainda colocaram uns efeitos abomináveis nela.

Mas o que mata é a narração: em determinado momento, começa a rodar um discurso pró-guerra de George W. Bush. Até aí tudo bem, só que ao invés de a música ficar baixinha para ouvirmos o discurso, ela não diminui o volume. Para piorar, o DeFeis continua cantando enquanto o Bush tá falando! Parece até que alguém resolveu juntar duas músicas completamente diferentes em uma única faixa só para matar o tédio e isso acabou acidentalmente no disco. Se você tiver coragem, aperte o play aí embaixo.

Angels of the Apocalypse é uma coisa medonha, pavorosa, sem emoção alguma. Poderia ser um álbum nada, mas a produção terrível acabou totalmente com esta possibilidade. A única coisa que presta são duas faixas mais ou menos, alguns solos de guitarra e a arte da capa, que é tremendona e merecia estar em um disco melhor.

Eu realmente recomendo que você evite ouvir o disco ao máximo e ir fazer algo mais produtivo com o seu tempo, como ir ver o filme do Pelé.

CURIOSIDADES:

– A versão japonesa do álbum vem com uma versão orquestrada de Design the Century. Eu não consegui achá-la para ouvir, mas duvido que seja grande coisa.

– Essa é para os sem vida social: o que acontece com o Timo se ele ficar dois segundos parado sem fazer nada? O primeiro a acertar ganha um high five telepático.

– Eu falei da crise de ansiedade do Timo Tolkki, mas eu sinceramente não quis ofendê-lo e muito menos tirar sarro de sua condição. Até porque eu também tenho crise de ansiedade e já sofri de depressão, então eu falo com propriedade do assunto. Sei que este comentário é inútil, mas a gente vive num mundo tão politicamente correto que é sempre bom justificar.

LEIA TAMBÉM:

Entrevista exclusiva com o Revolution Renaissance/ Timo Tolkki – Parte 1 – Timo Tolkki fala sobre sua saída do Stratovarius e outras coisas.

Entrevista exclusiva com o Revolution Renaissance/ Timo Tolkki – Parte 2 – a continuação.