X-Men: Primeira Classe

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Desde que os primeiros materiais promocionais de gosto pra lá de duvidoso começaram a cair na rede, fãs dos mutantes mais famosos dos quadrinhos não hesitaram em cravar que X-Men: Primeira Classe seria uma grande e vergonhosa bomba. Bem, chegou a hora de descobrir se a afirmação procede. E, sem mais delongas, já dou a resposta: não. Bem longe disso, aliás.

O quinto filme dos X-Men (contando X-Men Origens: Wolverine, esse sim uma grande porcaria) é, na verdade, muito bom. Tinha potencial até para ser excelente, mas apresenta sim alguns defeitos. Uns graves e outros nem tanto, fatores esses que custaram ao longa um Alfredo inteiro. Mas falarei sobre isso um pouco mais adiante, pois primeiro é preciso apresentar a sinopse.

OS FILHOS DO ÁTOMO

Vemos aqui a gênese dos X-Men no início da década de 60. O recém formado professor Charles Xavier é contatado pela CIA para ajudá-la a combater o Clube do Inferno e seu líder, o maligno Sebastian Shaw, que planeja deflagrar a Terceira Guerra Mundial e assim eliminar todos os homo sapiens do planeta. No caminho, Charles irá encontrar o jovem Erik Lensherr, envolvido numa missão pessoal de vingança contra os nazistas que o fizeram passar pelo inferno num campo de concentração durante a Segunda Guerra.

Os dois rapidamente formam uma amizade, embora não concordem em diversos pontos sobre o relacionamento com os humanos normais. Mesmo assim, recrutam e treinam vários mutantes para fazer frente à turminha do mal e evitar uma catástrofe de proporções épicas.

O QUE TEM DE BOM

Começando primeiro pelos pontos positivos. Sim, é mais uma história de origem, mas essa aqui tem um grande atrativo, que é justamente se inserir num contexto histórico. O filme se passa durante a Guerra Fria e todo seu clímax acontece durante a crise dos mísseis de Cuba. Dessa forma, é muito divertido assistir a essa reimaginação da História com a presença dos mutantes e como eles interferem nela.

As cenas de ação estão ótimas e os efeitos especiais são de primeira. Há muitos destaques nesse departamento, como a perseguição aérea entre Banshee e Angel ou o ataque de Azazel (personagem que eu não conhecia e que não passa de um clone vermelho e malvado do Noturno) aos agentes da CIA.

Os uniformes são muito mais parecidos com os dos quadrinhos e funcionam bem na tela. Outros aspectos técnicos, como som e direção de arte, também são ótimos e o filme ainda trás de volta em algumas sequências aquela montagem quadrínistica bacana que Ang Lee usou no seu Hulk. Para terminar, o nível geral das atuações vai do competente para cima e há momentos bem humorados que funcionam direitinho.

OS DEFEITOS

Como disse, a película tem sim defeitos que tiram um pouco do brilho do filme. Para os fãs mais puristas, nem preciso falar das imensas liberdades criativas tomadas com muitos personagens, não é?

Até mesmo eu, que não acompanho as HQs mutantes há anos, achei que exageraram na dose. Temos aqui absurdos variados como Moira MacTaggert como agente da CIA e a presença de diversos outros personagens que só deveriam aparecer décadas depois.

A presença do Destrutor já adolescente, por exemplo. Isso faz de Scott Summers, o Ciclope, um filho bem temporão ou adotado. Mas ao menos a película não comete a besteira de X-Men – O Confronto Final de entupir cada quadro de celulóide com o máximo de personagens possível. Já é um alento.

No entanto, há dois graves furos de roteiro. O primeiro é a relação através do famigerado retcon entre Xavier e Mística. Isso porque se eles tinham um relacionamento tão forte assim, não faz nenhum sentido eles mal se falarem nos outros filmes (isso para não dizer que Mística tentou matar Xavier no primeiro X-Men), como se nem se conhecessem.

Por fim, o grande plano de Sebastian é um dos mais idiotas de todos os tempos. Até mesmo um sujeito que acabou de passar por uma lobotomia sabe que ninguém, nem mesmo os mutantes (mesmo sendo eles os filhos do átomo), sobreviveria àquilo. Somente o Superman, mas ele é de outra editora…

POR QUE VOCÊ DEVE ASSISTIR?

A resposta, meu amiguinho delfonauta, é muito simples e posso dá-la em uma palavra: Magneto. O filme é inteiro dele e bem poderia se chamar Magneto Begins. O que temos aqui é a gênese de um dos personagens mais tremendões das HQs. Só esse fato já faz valer o ingresso.

Também ajuda em muito Michael Fassbender entregar uma ótima atuação, discreta, mas ao mesmo tempo poderosa. E o diretor Matthew Vaughn faz um excelente e criativo uso dos poderes magnéticos do personagem. Todas as suas cenas de ação são grandiosas.

Mesmo sabendo que rumos o personagem tomará, é impossível não torcer por ele. E o filme dá a real dimensão de todo o potencial que o personagem possui. Ele é, sem dúvida, o maior responsável pelos quatro Alfredos aí em cima.

O VEREDICTO

X-Men: Primeira Classe é uma obra que apresenta muitas falhas (e algumas bem feias, por sinal), mas está longe de ser a bomba que tantos esperavam. Muito pelo contrário. Mesmo com tantas adversidades, o produto final é surpreendentemente bom. Eu só o colocaria atrás dos dois primeiros X-filmes.

Se você conseguir deixar seu lado xiita um pouco de lado (e fazer vistas grossas para os furos), é diversão de primeira. E se você for um fã do Magneto, pode comprar o ingresso sem medo que vai valer a pena.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
x-men-primeira-classePaís: EUA<br> Ano: 2011<br> Gênero: Ação<br> Duração: 132 minutos<br> Roteiro: Ashley Edward Miller, Zack Stentz, Jane Goldman e Matthew Vaughn<br> Elenco: James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Rose Byrne, January Jones, Jason Flemyng, Nicholas Hoult, Kevin Bacon e Oliver Platt.<br> Diretor: Matthew Vaughn<br> Distribuidor: Fox<br>