A convivência em família pode gerar toda sorte de sentimentos. Amor, ódio, humor, tristezas, mas nunca monotonia. Porque quando a parentada se reúne, alguma coisa sempre acontece. O argentino Pablo Trapero não apenas sabe disso, como usou como tema de seu filme Família Rodante.
Emilia (Graciana Chironi, avó do diretor na vida real) acaba de completar 84 anos e, não bastasse a alegria de ter a família reunida para celebrar a data, ganha mais um presente. É convidada pela irmã para ser madrinha de casamento da sobrinha que ela nem mesmo conhece.
O casório será na cidadezinha de Misiones, a 1.200 quilômetros de Buenos Aires, lar de Emilia, praticamente na fronteira com o Brasil. Fora a grande distância, ela faz questão que toda a família a acompanhe. Para acomodar todo o pessoal, o meio de transporte escolhido é uma casa rodante, construída num Chevrolet Viking 56. É uma espécie de avô dos trailers (o veículo, não as prévias que costuma passar antes dos filmes no cinema).
Quem tem uma família grande com certeza vai se identificar com personagens e situações retratadas. A prima gostosa, o cunhado folgado, a tia ovelha negra, personagens clássicos de qualquer família do mundo. A graça do filme é justamente reconhecer na tela a sua família e coisas que aconteceram com ela.
É uma obra muito simpática, um filme bem agradável de se assistir, com roteiro bem amarrado e boas atuações, considerando que a maioria do elenco é formado por atores amadores. Mas, ainda assim, está longe de ser o melhor exemplar do cinema argentino. Sim, porque nós, brasileiros, podemos levar a melhor no futebol, mas quando se trata de cinema, nossos vizinhos simplesmente nos massacram de goleada.
Para comprovar todo o poder de fogo de nossos hermanos argentinos, recomendo ao amigo delfonauta alugar os tremendões Nove Rainhas e O Filho da Noiva.
Já este Família Rodante diverte, passa o tempo de maneira satisfatória e só. Tinha potencial para causar uma identificação ainda maior com o espectador e bem poderia aprofundar algumas tramas secundárias que, do jeito apresentado, acabaram ficando mal resolvidas.
Assim, por ser divertido, mas por ficar no meio do caminho, este é mais um trabalho a ganhar a já popular denominação de filme nada. Sem dizer que não serve como exemplo para tentar convencer os orgulhosos brasileiros de que o cinema argentino detona. Então, o melhor a fazer é usar seu rico dinheirinho na locação dos dois exemplares citados um pouco acima. Estes, sim, dignos representantes da terra de Carlitos Tevez.