Harry Potter e o Cálice de Fogo: LIVRO VS. FILME

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Divirta-se com o nosso especial Harry Potter e o Cálice de Fogo:
Crítica do filme
Crítica do livro

Quando um filme do porte de Harry Potter e o Cálice de Fogo sai nos cinemas, já sabemos o que esperar: dezenas de fãs aplaudindo qualquer coisa que vêem, dezenas de fãs jogando tomates na tela porque “o que o personagem X falou no quinto parágrafo do capítulo vinte e um não está no filme” e dezenas de não-fãs reclamando porque não entenderam nada de nada. Então, para evitar maiores desesperos, os fãs que estão com medo dos possíveis cortes fenomenais na trama do livro podem ler esse artigo antes de encarar o filme no cinema. É meio que uma preparação psicológica pré-sessão. Leia com atenção pra não dizer que não avisei! Ah! E saiba que, se você não leu o quarto livro da saga, isso aqui tem zilhões de spoilers. Portanto, leia, mas por sua própria conta e risco.

Antes de qualquer coisa, vou dizer o óbvio: 583 páginas de história não cabem inteirinhas em um filme de duas horas e quarenta minutos. Ponto. Como o pessoal da Warner não quis arriscar e não dividiu tudo o que tinham em dois filmes de duas horas e meia, fique sabendo que sim, muita coisa ficou lá na sala de edição, levando consigo alguns detalhes bem interessantes do livro e modificando um pouco a trama. Vamos então saber o que é que há de diferente: logo na primeira cena, que segue bastante o que está no livro, vemos uma diferença crucial. Quem está conversando e mata o mordomo Franco não são apenas Rabicho, a Cobra e Voldemort – junto com eles já está Bartô Crouch Jr., entregando logo de cara o que seria uma descoberta genial de final de trama. Pode parecer um baita desrespeito com a história, mas existe uma explicação plausível: Harry Potter e o Cálice de Fogo segue a linha de mistério dos outros livros da série (estilo “acontece alguma coisa e precisamos descobrir quem foi que fez isso”), mas tem também muita ação e mergulha mais do que nunca na emoção dos personagens. Para adaptá-lo ao cinema, o diretor Mike Newell optou por privilegiar justamente essa parte da ação e da emoção dos personagens, deixando pra lá o mistério formado ao redor de quem convocou a Marca Negra na primeira cena.

Até dá pra entender as razões do senhor Newell: imagine você se ele seguisse igual a J.K. Rowling! No fim da história, você teria que assistir ao relato do pseudo-Moody explicando toda a complexa trama que envolve um elfo doméstico, uma maldição Imperius e um pai malvado, que duraria pelo menos uns 10 minutos entediantes. Certas coisas não caem bem na tela grande. Vai daí que também por isso, Ludo Bagman, um personagem que está na história original basicamente pra ser um suspeito a mais, foi sumariamente eliminado na produção do cinema – e as ações feitas por ele no livro aqui são atribuídas a Bartô Crouch. Por quê? Porque, segundo consta, no cinema não existe nada daquela história do Crouch Júnior ter trocado de lugar com a mãe e vivido sob a maldição Imperius junto ao pai por muitos anos. Ele simplesmente acabou de fugir de Azkaban (e, bem, não explica como!) e pronto. Por isso, a cena emocionante que acontece entre Vitor, Crouch e Potter está bem diferente da que você leu. A elfa doméstica Winky também não aparece, e nada sobre o F.A.L.E. está lá. Agora, o que pode complicar a vida dos roteiristas futuramente é que 1) o Percy Weasley é simplesmente ignorado e não aparece nessa história e 2) não ficou muito claro que o Ministério da Magia não acredita em Dumbledore.

As mudanças principais em relação ao livro estão aí. É legal ter em mente que esse filme gira bastante em torno do Torneio Tribruxo e das tarefas, e, por isso, cenas enormes são dedicadas a elas. A mais exagerada é a do dragão, que dura um tempo infinito, bem ao contrário do que acontece no livro – e a mais decepcionante é, de longe, a cena do Labirinto. Não tem criatura alguma lá, e por isso toda aquela luta de honra entre Harry e Cedrico no fim, para pegar a Taça, ficou menos nobre do que deveria. Nas entrevistas para a imprensa, o diretor e os assistentes de cenário viajaram bastante em cima do labirinto, dizendo que ele tem vida própria e é amedrontador, mas, no filme, não passa de um caminho verde que serve como ponte para a cena do cemitério. Bem, pelo menos essa parte é bem fiel à história. Um pouquinho menos dark do que poderia ser, mas a gente perdoa.

E não esqueçamos da Rita Skeeter! Seu papel é muito menor do que realmente é, e não existe menção ao fato de ela ser uma animaga, o que seria no mínimo interessante mostrar. Também falando de personagens, o Sirius tem menos participação do que merecia aqui e o Dumbledore foi humanizado demais. Não acho que Alvo Dumbledore seja tão medroso quanto demonstrou nesse filme.

Um ponto positivo e que eu morria de medo que acontecesse é em relação aos “romances” que se formam nesse capítulo. Eu achava que, como sempre acontece, os caras de Hollywood iam explorar isso demais e colocar um ou outro beijo inexistente entre os personagens – mas aplausos para os roteiristas que seguiram essa parte da trama exatamente como a J.K.Rowling queria e deixaram os estudantes de Hogwarts ainda mais humanos e tão reais quanto eu ou você.

Mas vale dizer que, apesar de tudo, o filme conseguiu sintetizar a história e não modificou o enredo tão terrivelmente assim. Eu sei, são tantos detalhes diferentes que dá até medo e parece que o filme é péssimo. Mas nada disso. A não ser que você seja um daqueles fãs puristas que acreditam que até as entranhas do protagonista se remexendo de dor a cada dois segundos devem ir para um filme, isso não incomoda mesmo. Afinal, a gente já sabe: livro é livro e filme é filme. E agora, se ele é bom? É ótimo, e posso dizer isso como fã inveterada da série Harry Potter, em especial desse quarto volume – mas é melhor ler mais sobre isso na própria crítica do filme. =D

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