Os Maiores Clássicos do Homem-Aranha Volume 3: A Morte de Gwen Stacy

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Antes de começar a resenha, fique avisado. Spoiler é algo proibido no DELFOS, porém neste caso abriremos uma exceção, simplesmente porque é impossível comentarmos sobre essa edição e seu impacto sem comentar alguns pontos cruciais da trama. Então, se você não conhece a história e não quer conhecer antes de ler, pare por aqui.

Ainda comigo? Então vamos lá: Se você já leu algumas edições de Homem-Aranha, você com certeza sabe ao menos alguma coisa sobre Gwen Stacy. Gwen foi o primeiro verdadeiro amor de Peter Parker (quiçá o único) e, ironicamente, ficou imortalizada na história das HQs justamente por sua morte. Posso estar errado, mas nos 40 anos de cronologia do Aranha e de todas as mortes que aconteceram neste período, apenas 5 delas não eram farsas (ao menos até o momento): seus pais, Tio Ben, Harry Osborn, George Stacy e o motivo desta resenha, Gwen Stacy. Dessas, a que Peter e seus fãs mais sentiram falta foi, sem dúvida a da loirinha.

Pois finalmente, desde que eu comecei a colecionar Homem-Aranha (no longínquo ano de 1992 para os interessados), esta história é reeditada em nosso país. Admito que já havia lido a “dita-cuja” em uma edição sebosa (comprada no sebo, se você não fala delfiano), mas é claro que nem todos os interessados tiveram a mesma sorte de encontrá-la, o que torna este relançamento quase tão especial quanto a história nele contida.

Como morte pouca é bobagem, não satisfeita em matar apenas Gwen, a Panini colocou na mesma edição a morte de seu pai, o capitão de polícia, George Stacy, que serviu por um bom tempo como figura paterna, não só para Peter, como também para o Aranha. É um verdadeiro massacre da família Stacy em uma só edição. E ainda tem uma história brinde. Mas vamos por partes.

O primeiro arco da edição consiste de três histórias: Os Tentáculos do Doutor Octopus!, Octopus Vive! e E Chega a Morte!, publicadas respectivamente na revista Amazing Spider-Man, números 88, 89 e 90, todas de 1970. Nela vemos o Aranha lutando obviamente contra o Doutor Octopus e levando uma bela surra do cientista, tudo culminando, é claro, com a morte do papai Stacy. Criada pela dupla dinâmica Stan Lee e John Romita, a história é bem legal, mas seu argumento é claramente bem datado o que fica visível principalmente no constante recurso da “fotolegenda”. Por exemplo: em determinado momento, um guarda está atirando nos tentáculos de Doc Ock e vemos as balas ricocheteando neles. Então aparece um cara e diz algo do tipo: “É inútil! As balas ricocheteiam nos tentáculos!”. Esse recurso é tão utilizado que creio não existir um quadrinho nas 116 páginas desta edição sem nada escrito. Particularmente, isso não me incomoda, eu até gosto, já que acho que dá um ar mais inocente e até mais infantil para as histórias.

Devemos lembrar também que tudo que está retratado nesta edição representa uma época anterior a quando a Marvel perdeu o controle da cronologia de seus heróis. Uma fase onde não era comum matar personagens para trazê-los no mês seguinte, onde não existiam totens e complicações semelhantes e principalmente, onde não existiam arcos que se alastravam por anos, como ocorreu com a dolorosa Saga do Clone. Nessa época, quando uma história durava mais que uma edição, era uma trama especial, já que a grande maioria trazia histórias quase independentes (apenas com um ou outro gancho para a próxima edição, por exemplo).

Uma curiosidade em relação a este arco é que, se você parar para pensar, realmente George Stacy foi morto pelo aracnídeo, afinal, Octopus não tinha a intenção de derrubar aquela chaminé. Isso ocorre apenas devido à artimanha do Aranha em fazê-lo perder o controle de seus membros de aço.

E então chegamos no prato principal. O arco composto das histórias O Dia em que Gwen Stacy Morreu e A Última Cartada do Duende!, publicados na revista Amazing Spider-Man números 121 e 122, ambos de 1973. Para quem não sabe, a história do primeiro filme do Homem-Aranha foi livremente baseada nessas edições. Lembra da cena do longa onde Mary Jane é jogada da ponte pelo Duende Verde? Foi exatamente assim que o verdão matou Gwen no gibi. A própria morte do Duende no filme é arrancada sem dó nem piedade de sua contraparte literária. Até mesmo a Mary Jane hollywoodiana está muito mais semelhante à srta Stacy do que à própria MJ. Embora os sonhos e a profissão do interesse romântico cinematográfico de Peter sejam os mesmos da MJ do gibi, a sua personalidade doce e meiga está muito mais parecida com a Gwen do que com a festeira Mary Jane. Existem duas grandes diferenças entre o filme e o gibi, no entanto: a primeira é que a loirinha foi substituída por uma ruivinha (por sua vez interpretada por uma loirinha tingida) e a segunda e primordial é que a garota não morreu.

Se você quer a minha opinião (e se você está lendo esse texto, você deve querer), eles deveriam ter colocado a Gwen no primeiro filme e matado a garota sem dó. Ia deixar o filme muito mais dramático e romântico e não precisariam excluir a MJ da história para isso. Podiam colocá-la no primeiro filme como a coadjuvante por quem Peter se apaixonaria no segundo.

Mas e o gibi? É mesmo, eu e minha divagações. A própria capa da edição 121 de Amazing Spider-Man já anuncia que alguém muito importante morre nessa edição. A condução da história é tal que deixa óbvio que quem vai morrer em seu clímax é Harry Osborn, a prole de Norman, o famigerado Duende Verde. Isso se deve ao fato de que o espertinho roteirista Gerry Conway ressuscitou o vício de Harry em LSD (aliás, bem que as clássicas ASM 97, 98 e 99 poderiam estar incluídas nesse pacote, né, Panini?) apenas para despistar e surpreender a todos quando Gwen exala seu último suspiro. Esse suspense se mantém até o último momento, pois o Aranha até consegue resgatá-la antes que sua queda chegasse ao fim, porém já era tarde demais. A guria já estava morta. Claro que esse suspense todo não adianta mais para nós que não lemos a história quando ela saiu, já que a própria capa desta reedição tupiniquim entrega o fato de que é a Gwen que vai morrer.

Esse fato afetou o Aranha de tal forma que, pela primeira e única vez desde que aquela aranha radiativa o picou, ele ficou tentado a matar alguém. A surra que ele dá no Duende parece refletir não só a frustração de Peter como de todos os fãs que não se conformavam com a morte de sua meiga namorada.

O assassinato de Gwen foi talvez o mais ousado passo dado pela Marvel (lembre-se que naquela época as HQs – e até o mundo em si – eram bem mais inocentes do que são hoje). De certa forma, Gwen não era apenas a namorada de Peter, mas de todos os seus leitores, que choraram junto com o Aranha a perda de uma de suas personagens preferidas. Isso gerou inúmeras reclamações de fãs que escreviam cartas iradas (e você sabe que fãs indignados não são lá muito educados, né?) para a editora implorando e exigindo pela volta da loirinha. A sádica Marvel, contudo, ria da dor de seus fãs e não voltou atrás. Hoje, 30 anos depois de sua morte, Gwen é possivelmente a falecida mais antiga dos gibis do Aranha – desconsiderando, é claro, seus pais, que morreram antes da história começar e o Tio Ben, cuja morte foi o estopim que fez de Peter um herói – e talvez uma das únicas.

E chegamos à história bônus. Intitulada O Beijo e publicada originalmente em Amazing Spider Man 365. O Beijo nada mais é do que um conto romântico. Nela, relembramos Gwen junto com Peter, enquanto observamos um álbum de fotos de seu primeiro amor. Particularmente, é a história que mais gosto nessa edição, já que é uma história onde o sentimento predomina sobre a ação (que é completamente inexistente). É uma história curta, que não tem nem 10 páginas, mas possibilita que fãs mais novos do Aranha vejam o quanto essa garota era importante para Peter e, conseqüentemente, para seus fãs.

Claro que não vivi a época da publicação original desta história mas, ao analisá-la hoje, penso que, embora ousado, tenha sido um passo genial da Marvel. Não apenas pela imensa publicidade que isso gerou ou pelas oportunidades de futuras histórias decorrentes desse fato (das quais a maioria nem deveria ter sido publicada, é verdade), mas principalmente por ter colocado o Aranha em uma posição que o diferencia de todos os outros heróis. Claro que posso estar errado ou você pode discordar de mim (até porque não tive oportunidade de ler todas as histórias publicadas nestes 42 anos de Homem-Aranha), mas O Dia em que Gwen Stacy Morreu foi, na minha opinião, o mesmo dia em que o Homem-Aranha que conhecemos hoje nasceu. Um herói cujas aventuras super-heroísticas nada mais são do que um pretexto para sabermos o que acontece na vida de Peter Parker, tornando Homem-Aranha o herói mais romântico que as HQs já conheceram. E como diz no início do primeiro filme do Aranha: “Como toda história que merece ser contada, essa história é sobre uma garota.”. Eu não conseguiria dizer melhor…

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