Há mais de 10 anos não leio uma história decente do Quarteto Fantástico e, acredite, confessar isso é muito doloroso para um velho fã. Em minha adolescência, para você ter uma idéia, enquanto todos os meus amigos preferiam certos mutantes ou o amigão da vizinhança, eu sempre batia o pé ao afirmar que o Quarteto era o melhor grupo de personagens da Marvel, mesmo com alguns vilões toscos como o Toupeira.
Mas os dias de ouro do Quarteto Fantástico estão bem distantes. As histórias clássicas de Stan Lee nos anos 60, como a chegada do Surfista Prateado e Galactus à Terra (retratada de maneira maravilhosa em Marvels) ou a fase bem-humorada e divertidíssima de John Byrne nos 80 são apenas lembranças e hoje, a revista vive muita confusão, exageros e pouco cérebro, exatamente como todo o universo Marvel (estou me baseando na cronologia publicada no Brasil e não nos eventos que já estão rolando lá fora, os quais aguardo com grande expectativa). Para falar a verdade, depois que vi o filme, já estava até me esquecendo o porquê de gostar tanto deles quando eu era um adolescente.
Felizmente, ainda temos boas iniciativas no mercado de quadrinhos em resgatar o passado glorioso dos personagens e a Panini fez um ótimo trabalho ao compilar nove histórias clássicas do Quarteto, do comecinho dos anos 80, justamente na fase em que John Byrne passou e deixou sua marca pelo título. Não preciso entrar em detalhes, mas basta dizer que entre as histórias presentes, temos duas fundamentais na cronologia do grupo: uma na qual ajudam Galactus e outra em que se aliam ao Doutor Destino para deter um impostor. Por aí você já tem noção do que Byrne aprontou.
Além disto, o Quarteto ainda encara Terrax, encontra com os bacanudos dos Inumanos e sofre uma grande reviravolta quando Frankie Raye – a então namorada do Tocha Humana – se torna por vontade própria mais um arauto do Devorador de Mundos.
Sem brincadeira, é um clássico atrás do outro, parece até piada que todas essas revistas saíram juntas durante um mesmo ano, não é à toa que Byrne conquistou sua merecida fama nessa mesma época. O cara pegou personagens carismáticos, porém “infantis” (no sentido de não terem muita profundidade, ao contrário de um Homem-Aranha) e conseguiu desenvolver a personalidade de cada um.
É curioso que, apesar do desenhista ser o mesmo (o próprio Byrne, que também cuidou de todos os roteiros), os traços do cidadão nas histórias do Quarteto são muito mais leves e criativos do que em sua fase pela revista dos X-Men, quase na mesma época. Isso aconteceu, muito provavelmente, porque o cara tinha carta branca da Marvel para fazer o que quisesse com Reed Richards e companhia, sem prazos apertados e pressões, ao contrário da revista dos mutantes onde estava preso ao conceito pesado e viajante do mala mor e roteirista nas horas vagas, Chris Claremont.
Ao contrário das primeiras coletâneas da Marvel, onde a editora optou pelo formato preto e branco que, se por um lado barateava os custos de produção, por outro tirava grande parte do charme das edições originais, aqui eles corrigiram o erro e temos as histórias coloridas, exatamente como saíram há 25 anos. Mas o precinho também está caprichado, R$ 24,90 na tabela, um pouco salgado para o público geral de quadrinhos, mas justo pelo que a revista proporciona em suas 180 páginas.
Quando cruzar com esse produto nas bancas ou nos sites, nem pense duas vezes, será provavelmente sua melhor compra em quadrinhos dos últimos meses. Ficou a fim de ler? É só clicar aqui e delirar.
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