Shaman – Ritualive

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5 de abril de 2003. Um dia que vai ficar marcado na história do Heavy Metal. Nesse dia, o Shaman se apresentou no terrível Credicard Hall em São Paulo. Até aí nada de mais, mas este não era um show comum, pois Andre Matos e companhia conseguiram reunir um elenco de convidados de fazer inveja a qualquer nome mainstream do estilo: Andi Deris e Michael Weikath (vocalista e guitarrista do Helloween), Tobias Sammet (vocalista do Edguy e do Avantasia) e Sascha Paeth (guitarrista do Heavens Gate e do Virgo), além do violinista Marcus Viana (Sagrado Coração da Terra). Este elenco era tão estelar que o show não foi nem divulgado como Shaman, e sim como Shaman e convidados. Obviamente, um evento desses não poderia passar em branco e poucos dias antes do show foi anunciado que o mesmo seria gravado para dar origem a um DVD.

Confesso que o show foi tão bom que fiquei ansioso para o lançamento do DVD, para que pudesse revê-lo quantas vezes quisesse. O dia finalmente chegou. E começou mal. A julgar pela capa, este não era um DVD de um dos melhores shows que já presenciei, e sim de um pirata (mal-feito ainda por cima). Aliás, além de feia, a capa é exatamente igual à do DVD (se é que se pode chamar aquilo de DVD) do Angra – Rebirth World Tour Live In São Paulo, pois mostra uma foto da banda e do público misturado à capa do álbum da banda. Horrível, para dizer o mínimo. Ok, não vamos julgar um livro (ou um DVD) pela capa. Virei para ver o setlist. Onde estão Crazy Me? (Virgo), Inside (Avantasia) e a apoteose final, uma das músicas que eu mais queria rever, Breaking The Law (Judas Priest) com todos os músicos tocando juntos, inclusive Marcus Viana (Breaking The Law com violino é demais)? Tiraram justamente as músicas que tiveram participações especiais. Seria falta de espaço? Ora, se cabe O Senhor dos Anéis em um DVD, com certeza cabem as pouco mais de duas horas de duração do show do Shaman. Por que então? Ainda não consegui descobrir.

Mas vamos falar sobre o que está aqui. O show começa exatamente como todos os shows que o Shaman fez em São Paulo. A intro Ancient Winds em playback (e, justamente por causa disso, deveria ter sido excluída do CD, para dar espaço a músicas mais importantes) seguida de Here I Am / Distant Thunder / For Tomorrow e Time Will Come. A imagem e o som são bons e a execução é impecável, ou seja, realmente um material de qualidade. Aí começa a parte sonolenta, com Lisbon (Angra), os inevitáveis e cada vez mais chatos solos individuais de guitarra e de bateria e a pior música do Shaman, Over Your Head, esta já contando com a participação de Marcus Viana no violino e George Mouzayek no derbak. Chega a hora do solo de piano de Andre Matos que, por incrível que pareça, é muito legal, seguido da trilha de novela Fairy Tale, com Matos ainda no piano de cauda. Confesso que não gosto dessa música, porém aqui ela conta com a participação de Marcus Viana que simplesmente arregaça. Assistir a essa versão da música é emocionante e dá a sensação de se estar assistindo a um concerto de música clássica. Demais. Um dos pontos altos do DVD, sem dúvida. Depois disso, infelizmente, a adrenalina cai novamente com outras músicas mais chatinhas do álbum de estréia: a comercial Blind Spell e a faixa-título Ritual.

Mas é depois dessa música que a casa vai abaixo e o show chega ao seu clímax, com a execução de Sign Of The Cross (Avantasia), uma das músicas mais legais dos últimos anos, com a participação de Tobias “Eliane” Sammet e Sascha Paeth, além de Andre Matos imitando o Baby Sauro (Não é a mamãe) na cabeça de Tobias. Infelizmente, ao invés de um dueto entre a Eliane, ops, o Tobias e o Andre Matos, optaram pelo primeiro cantar quase toda a música e o Andre fazer pouco mais que backing vocals. Não foi a decisão mais acertada, mas ainda assim está bem legal. A melhor música do Shaman, Pride, vem em seguida e os dois vocalistas mandam o profissionalismo às favas e começam a tocar visivelmente por diversão, deixando a apresentação ainda mais legal de assistir, porém prejudicando aqueles que a estão ouvindo no CD, pois os vocais falham bastante.

Segue o clássico do Angra, Carry On e, para terminar, o clássico dos clássicos, a maravilhosa Eagle Fly Free (será que existe alguém que não gosta dessa música?) executada com os membros do próprio Helloween, novamente Andre Matos fazendo apenas backings, mas surpreendentemente aqui ficou bem legal. Enfim, um clássico absoluto em mais uma versão empolgante. Mas para os que estão assistindo no DVD tem um problema: a edição parece aquelas feitas pela Rede Globo, mostrando o guitarrista que não está solando, por exemplo. Deveriam ter sido mais cautelosos com algo tão importante.

O DVD ainda tem alguns extras como Making Of (chato como sempre), os videoclipes de For Tomorrow e Fairy Tale e a desnecessária galeria de fotos (falando sério, quem quer ver fotos em DVD?).

Já o CD tem uma boa gravação e obviamente um setlist menor: foram tiradas Lisbon, os solos (enfim excluíram algo certo) e Carry On. Detalhe: o cd tem 66 minutos. Ou seja, caberia mais duas músicas, pelo menos. Infelizmente, deixaram de fora essas duas músicas para colocar uma propaganda do DVD (um vídeo da Carry On). Uma atitude lamentável, já que quem compra um CD, quer escutá-lo. Quem quisesse assistir a Carry On em vídeo, compraria o DVD.

Apesar dos pesares, Ritualive é um lançamento bem agradável. Não é o tremendo DVD que eu esperava que fosse, mas garante algumas horas de diversão.